O QUE SERIA DE MIM SEM MINHAS AMIZADES...

terça-feira, 12 de julho de 2011


A VIDA NOS ENSINA MUITAS COISAS,
A TODOS OS INSTANTES DEVEMOS TER ABERTURA PARA ACOLHER.
A MUDANÇA MUITAS VEZES, PROVOCA EM NÓS FORTES DORES,
PORÉM É NESTAS HORAS QUE DESCOBRIMOS NOSSA FORTALEZA,
É DIANTE DE PEQUENAS COISAS, QUE VEMOS QUEM SOMOS VERDADEIRAMENTE
E COMO SOMOS, E PARA CHEGAR A TUDO ISSO É NECESSÁRIO UM CAMINHO.
O CAMINHO DO OLHAR PARA TRAZ, OBSERVAR EM QUE ERROU ACEITAR O SEU ERRO,
CHORAR DE ARREPENDIMENTO É EXPRESSAR SUA DOR E CULPA, É LEVANTAR E SEGUIR A FRENTE,
REACENDENDO AS ESPERANÇAS E OS SONHOS,DEIXANDO QUE
DEUS O CONDUZA NOVAMENTE E QUE ELE NÃO SÓ APENAS PEGUE EM SUA MÃO,
MAIS DEIXAR- SE SER TOCADA REALMENTE POR ELE SE ENTREGANDO POR INTEIRO,
DEIXANDO QUE ELE O TOME NOS BRAÇOS.
É NÃO TER MEDO DE LUTAR, É SER REALMENTE A MULHER ESCOLHIDA OU
O HOMEM ESCOLHIDO DE DEUS!

LAÍSY STEFFANY

NO PRINCÍPIO EU ERA A EVA

No princípio eu era a eva
Criada para a felicidade de Adão
Mais tarde fui Maria
Dando à luz aquele
Que traria a salvação
Mas isso não bastaria
Para eu encontrar perdão.
Passei a ser Amélia
A mulher de verdade
Para a sociedade
Não tinha a menor vaidade
Mas sonhava com a igualdade.
Muito tempo depois decidi:
Não dá mais!
Quero minha dignidade
Tenho meus ideais!
Hoje não sou só esposa ou filha
Sou pai, mãe, arrimo de família
Sou caminhoneira, taxista,
Piloto de avião, policial feminina,
Operária em construção...
Ao mundo peço licença
Para atuar onde quiser
Meu sobrenome é COMPETÊNCIA
E meu nome é MULHER..!!!!

(O Autor é Desconhecido, mas um verdadeiro sábio...)




ESPIRITUALIDADE

Espiritualidade vem de espírito. Para entendermos o que seja espírito precisamos desenvolver uma concepção de ser humano que seja mais fecunda do que aquela convencional, transmitida pela cultura dominante. Esta afirma que o ser humano é composto de corpo e alma ou de matéria e espírito. Ao invés de entender essa afirmação de uma forma integrada e globalizante, entendeu-a de forma dualista, fragmentada e justaposta. Assim surgiram os muitos saberes ligados ao corpo e à matéria (ciências da natureza) e os vinculados ao espírito e à alma (ciências do humano). Perdeu-se a unidade sagrada do ser humano vivo que é a convivência dinâmica de materia e de espírito entrelaçados e inter-retro-conectados.
A espiritualidade nos convida à integração de nós mesmos e nos propõe a redescobrir que o equilíbrio está em crescermos numa unidade de desenvolvimento entre nosso corpo e sexualidade e espírito-espiritualidade e mística, com todos os condicionantes psicológicos e contextuais que nos envolvem.
Antes de mais nada importa enfatizar fato de que, tomado concretamente, o ser humano constitui uma totalidade complexa. Quando dizemos “totalidade” significa que nele não existem partes justapostas. Tudo nele se encontra articulado e harmonizado. Quando dizemos “complexa” significa que o ser humano não é simples, mas a sinfonia de múltipas dimensões. É uma rede de relações e conexões. Podemos discernir três dimensões fundamentais do único ser humano: a exterioridade, a interioridade e a profundidade.
É considerada espiritualidade aquilo que as pessoas, costumam viver no dia a dia da vida, vivendo com retidão, com o sentido da solidariedade, o cultivo do espaço sagrado do espírito, tanto nas suas religiões e igrejas como no modo de pensar, agir e interpretar a vida. A espiritualidade é uma das fontes privilegiadas de inspiração do novo, de esperança, de elaboração de um sentido pleno e de capacidade de auto transcendência do ser humano.
E segundo Dalai-Lama, citado por L. Boff: "Espiritualidade é aquilo que produz no ser humano uma mudança interior."
Espiritualidade consiste em identificar em nós esta sede de infinito e de querer mais, de ir além do que está aí. Esta sede vem acompanhada do desejo de apropriação em que somos constantemente provocados a nos apropriar, adonar de coisas e pessoas. O desejo de posse está na relação com as coisas, pessoas, instituições e religiões, mas não mata a sede e a necessidade de espiritualidade.
Buscar o divino, portanto buscar espiritualidade faz parte da natureza humana e da felicidade.
Os muitos caminhos espirituais revelam também que não há limite para este universo e que através da história muitos e diversos caminhos foram e estão sendo percorridos. É neste sentido que o aprofundar uma Espiritualidade e Mística requer alguma identificação ou ao menos referência ao divino, não apenas a partir de conceitos externos de religiões ou crendices, mas, sobretudo como busca de resposta às questões fundamentais da nossa existência, tais como:
Para que vivemos?
Qual nosso lugar dentro da criação?
Ou o que podemos esperar para além desta vida?
A espiritualidade é fonte de esperanças e de dinamismo capaz de estimular, em cada pessoa, forças extraordinárias que serão raiz de energias tanto para viver o cotidiano como para superar barreiras que pareciam intransponíveis, sendo, por isso, aspecto importante e fundamental na busca equilibrada da transformação.
Através da história encontramos a vivencia de espiritualidades profundas. Muitos das pessoas que as viveram são considerados/as mestres e doutores e fundaram escolas de espiritualidade nas diferentes religiões. Com isto muitas vezes as religiões se apropriaram das experiências pessoais para constituí-las em doutrina ou norma, bem como em referência de espiritualidade.
Temos, portanto, caminhos de espiritualidade bem consagrados e de valorosos conteúdos doutrinais, bem como, de profundo relacionamento com o divino, acompanhados de uma mística de entrega e de doação capazes de ser caminho de felicidade. O que permanece como desafio é que estas experiências vividas por alguém possam ser usadas como referência para um seguimento, levando em conta a necessidade de cada pessoa que a assume dar a sua própria contribuição e fazer na prática, no seu próprio contexto e respondendo aos desafios que a vida apresenta em seu momento. Seria concretizar espiritualidade na mística transmitindo sua própria experiência-encontro com Deus. Seguir um carisma não pode ser uma imitação cega e desencarnada ou dependente. Em todas as religiões temos ótimas lições que podem contribuir num caminho para a comunhão com o transcendente e levar ao encontro de um verdadeiro sentido para a vida.
MISTICA
A Mística é uma decorrência da espiritualidade e tem a ver com a relação da pessoa com o divino, o transcendente, seu modo de perceber o divino e de sentir a sua presença dentro do seu contexto cultural. Há, portanto diferenças entre místicos orientais e ocidentais, com influencias culturais e existenciais próprias a cada um e somadas às suas próprias espiritualidades de origem.
Até pouco tempo pensava-se na mística como um privilégio de poucos, daqueles que tinham a vontade e a possibilidade de aprofundar-se no religioso e espiritual. Consistia numa certa separação do mundo e superação da materialidade, da corporeidade com tal compenetração no divino que ficasse acima das influencias das coisas para estar centrado totalmente, ou ao menos quanto permite a natureza humana, no divino, mergulhado no mistério que é Deus. Era uma libertação e superação das influencias e dependências em relação ao corpo, às coisas e pessoas para, mesmo no contato com elas, não se desviar da comunhão com o divino.
Não existe uma única explicação sobre a mística, assim como não há uma forma única de como manifestar a mística que alimenta a vida e a ação das pessoas. Tudo o que se pode dizer é que a mística tem um conteúdo que se expressa. Ela deve brotar, e as vezes, até explodir conforme o momento, o ritmo, a cultura das pessoas.
No caminhar da história as concepções do divino se ampliaram e com ela a compreensão da mística como algo parte do modo de ser humano e de suas relações.
Temos um excelente exemplo com o teólogo cristão e cientista Teilhard de Chardin desenvolveu e viveu uma mística a partir da percepção de Deus como criador presente em todas as coisas e pessoas. A relação com este Deus convida a uma atitude amorosa e a uma sintonia que faz o místico sentir-se parte deste todo, em perfeita comunhão entre matéria e espírito. A mística de Teilhard se tornou completa, terna e amorosa a partir de sua relação com o feminino. Toda sua teoria elaborada através do mergulhar espiritual em Deus e sua criação encontrou forma e sentido ao aprofundar o sentimento amoroso que acontece na relação apaixonada entre uma mulher e um homem. Estar apaixonado por alguém e as vibrações que isso desencadeia, é um reflexo real da paixão pelo divino. Sua tentativa mística foi de entrar no sentido profundo da Encarnação de Deus Filho que ao encarnar-se uniu o divino ao humano e o humano ao divino. O corporal e o espiritual são uma e única realidade, parte do mesmo todo. Sua mística é o reflexo desta compreensão do divino e do humano, de sua espiritualidade, e vai se revelar no modo de ser, de entender e de se relacionar.
A Mística pode ser comparada ao sal na comida, não se vê, mas se sente, e quando não está se sente ainda mais; ou como o fermento na massa, não se vê, mas é ele que faz a massa crescer dando textura e forma ao pão; ou como o ar que respiramos que não se vê, mas sem ele não sobrevivemos; ou mesmo como o amor que não se vê, mas que ao existir se transmite pela delicadeza, pela ternura, pelo perdão, pela disponibilidade, pelo serviço, pelo carinho, etc....
UNICIDADE DA PESSOA
O corpo é o nosso modo de ser e estar no mundo, é um espaço único e insubstituível que nos foi dado. Ele nos confere nossa identidade visível com nome e referências de lugar e tempo. É no corpo e com o corpo que crescemos como um todo. Por isso nosso corpo é inteligência, é vontade livre, é capacidade de amar. É ele que revela nossas energias, emoções e capacidades e é nele também que sentimos nossas limitações. O pulsar da vida que sentimos em nosso corpo é a sexualidade, energia que concentra a raiz de nossos impulsos e desejos.
A cultura atual, hedonista e consumista, perdeu a compreensão da sexualidade como um todo, reduzindo-a aos sentidos e ao prazer físico que se transformou em algo egoísta e dominador nos vários níveis da vida. Esta redução fez perder o senso de realidade e de beleza diversificada, impondo modelos de corpo ideal, com base no consumismo e na manipulação, o que fez aumentar a discriminação e o preconceito com tantos que portam uma diferença mais perceptível em seu corpo.
É a sexualidade que nos leva a buscar o conhecimento de nós mesmos, o sentido para a vida, o cultivo de amizades e de relações, e a buscar a felicidade como desejo ultimo de cada um. A sexualidade se expressa em todo nosso ser e agir como mulher e como homem, e nos empolga a viver prazerosamente a vida. Dela decorre a sensualidade que é a vivencia da sexualidade através dos sentidos e do prazer. A sensualidade faz sentir os prazeres sensuais como comer bem, cheirar deliciosos perfumes, acariciar outros corpos e nosso próprio corpo, escutar música, admirar o belo, sensibilizar-nos com a simplicidade das crianças..., "sentir a partir do coração",... perceber o divino presente na criação. Da sensualidade nasce o cavalheirismo, a delicadeza e a cordialidade. A sensualidade é também uma das vias de manipulação de nossos interesses. Pelo fato de despertar os sentidos, a atenção e a atração cria necessidades tanto de dentro para fora como de fora para dentro.
Recuperar este entendimento de sexualidade, nos levará a perceber que toda e qualquer atividade ou intervenção, seja qual for o domínio de nossa ação, pressupõe uma aceitação e convivência sadia com nosso corpo como UM. O mergulho espiritual profundo exige estar em paz consigo, acolher as próprias limitações e ter um razoável equilíbrio das emoções para que possa se constituir em uma experiência libertadora.
A falta de um auto-conhecimento razoável e de uma serenidade na relação afetiva e sexual, pode nos fazer mergulhar, muitas vezes, em pseudo-espiritualidades, provocando fuga para o espiritual, sem conseguir elaborar uma experiência libertadora e nem encontrar no espiritual uma motivação para a comunhão e o relacionamento com as pessoas e toda a criação.a natureza.
ESPIRITUALIDADE E MISTICA
Espiritualidade e mística produzem uma transformação que começa no interior de cada pessoa e se estende para a comunidade, sociedade, nas relações consigo, através de seu corpo, com os seus semelhantes, com a natureza e o universo.
A Espiritualidade e a Mística não estão fora da pessoa. É a vivencia da encarnação, um aprofundar, um dar sentido para vida no seu todo, por pessoas que vivem em um contexto social e econômico concreto, por isso é a busca concreta de resposta para as questões mais profundas do humano, da sua relação concreta com a natureza, seus semelhantes e o divino feitos por pessoas que vivem, são um corpo, em uma determinada realidade e cultura.
A espiritualidade e a mística serão libertadores se estiverem enraizados, pés no chão. São vividas por pessoas situadas no conjunto do nosso mundo, considerando causas e conseqüências provenientes da cultura elaborada em nosso contexto social e religioso. Elas passam pelo corpo. O imanente e o transcendente se pertencem mutuamente. A imanência se completa na transcendência. Uma Espiritualidade sadia transmitirá uma Mística quando houver harmonia entre corpo, mente e espírito, aceitação de nós mesmos como somos e com as diferenças e as limitações que tivermos, recuperando assim a capacidade de reconhecer e admirar a harmonia e a beleza existentes nas diversidade que passa a ser extremamente significativa.
A Espiritualidade e a Mística não se vêem, mas transparecem nas atitudes, se revelam no modo de ser, de agir e de reagir diante das coisas e dos fatos. Revelam-se numa postura ética e no cuidado com o semelhante, com a natureza e toda criação.
E num sentido amplo se entende que há uma mística e um modo próprio de ser em cada conjuntura, tanto de espiritualidade como de política ou de profissão. Por exemplo, há uma mística do exercício do poder que será diferente se concebido como mando ou como serviço. Há uma mística no exercício parlamentar dos políticos que será diferenciado entre exercê-lo como proveito próprio ou como representatividade popular no governo... Assim haverá diferenças entre a mística de uma espiritualidade mais voltada para o transcendente= vertical ou para o imanente = horizontal.
Se considerarmos nosso ser pessoa, como parte da criação e com sua fonte em Deus UM, não podemos dissociar o físico do espiritual, formamos uma única e mesma realidade, parte de um mesmo todo. Se aceitamos a encarnação de Jesus Cristo como Deus feito ser humano, aceitamos conseqüentemente a divinização da vida em nosso e a mútua participação entre o divino e o humano.
Assim se somos Um, pessoas únicas, somos convidados a valorizar nossa energia vital que é a sexualidade e se expressa em nosso modo de falar, de sorrir, de sentir, de nos tocar, de nos comprometer, de viver a vida em todas as suas dimensões. Com esta compreensão adquirimos uma mística na qual reconhecemos estar fazendo a Deus o que fazemos com as pessoas e a criação, ou seja, quanto mais intima e visceral for nossa relação com as pessoas, mais digna, respeitosa e intima será nossa relação com Deus e vice versa.
Recuperaremos a beleza das relações humanas, superando nosso desejo de posse, valorizando a gratuidade da doação, e nos tornado gratuitos, fazendo de nossos encontros momentos de ternura, justiça e cordialidade e dando sadia vazão a nossa sensualidade, expressão de nossa sexualidade.
A partir do reconhecimento desta integralidade e comunhão entre o divino e o humano, nossas relações nos mais diferentes níveis, serão sempre uma celebração do amor que faz feliz e não de egoísmo e auto satisfação, onde nos tornamos objeto um para o outro. Ultrapassa-se o moralismo do “certo” e “errado” para descobrir a beleza do projeto de Deus que nos criou para uma liberdade partilhada, que proporciona prazer, com sabor de vitória e um apelo para uma entrega e serviço cada vez maior. Respeitando as diferenças e com grande reverencia e respeito pelo outro e pela outra, reconhecemos que ao amar a outra pessoa estou também amando a mim mesma e a Deus que é a fonte desse Amor.
Estar apaixonado por uma pessoa ou por Deus é a melhor sensação do mundo, tudo fica fácil. Assim podemos compreender o que Jesus disse: meu jugo é suave e o meu fardo é leve. Estar apaixonada pela vida abre um leque enorme de perspectivas, torna-se expressão do infinito e traz um sabor de eterno. Deus nos convida a viver apaixonadamente.

FORMAS DE CONCRETIZAR A MÍSTICA – alguns exemplos
Na postura pessoal. A mística é a vivência de valores e convicções. Por isso, é na vida e nas atitudes pessoais que a mística mais se manifesta.
Por exemplo: a) o amor pelo povo; b) a solidariedade; c) o espírito de humildade, d) o espírito de superação, iniciativa e ousadia. e) o espírito de sacrifício; f) o companheirismo, g) a pedagogia do exemplo;
Na beleza e acolhimento do ambiente. A mística deve aparecer e atrair pela simplicidade e significância dos adornos, pela simbologia, luz, cores, festa, música. São fatores que despertam as diversas dimensões do ser humano como a sensibilidade, subjetividade, cultura, história, espiritualidade.
Na manifestação pública e coletiva. Cada grupo tem formas particulares de expressar seus valores, princípios e sua vida. Mas, a experiência recomenda que se leve em conta alguns critérios na manifestação pública da mística:
a) Ser uma atividade onde as pessoas participam com o corpo, mente e sentimento;
b) Não é um show para ser assistido; deve envolver as pessoas (o uso da poesia ou canção exige texto quem participa e alguém que saiba tocar);
c) Mística não combina com a preparação de surpresas, causar impacto, provocar sensação...
d) A celebração da mística deve ser bonita, criativa, breve, com certa solenidade, simples e bem feita e sempre ligada ao tema do momento;
e) É bom usar símbolos, gestos e incorporar expressões culturais, testemunhos pessoais, contudo, é preciso evitar que se torne mera apresentação teatral;
f) A mística pode ser expressa no começo de uma atividade coletiva. Ela concentra a atenção e recorda o espírito que une o grupo. Pode e deve ser feita a qualquer momento: um canto, um grito de guerra, uma declamação, um silêncio...
g) A preparação é necessária para evitar a improvisação, mas não pode virar um tormento para as pessoas que coordenam a celebração;
h) Não é necessariamente uma “reza”, mas é momento sério, solene que não comporta dispersão, cochichos e brincadeiras descabidas.
Vivemos numa sociedade altamente acelerada em seus processos históricos-sociais, o cultivo da espiritualidade e a manifestação mística exige que busquemos lugares onde possamos encontrar condições de silêncio, calma e paz, adequados para a interiorização. Contudo, não podemos reduzir estas manifestações somente nestas condições pois tiraríamos a riqueza da espontaneidade e a oportunidade de transformar outros ambientes co0m,o espaços celebrativos, pois a espiritualidade deveria se manifestar em todas as ocasiões da vida, no modo de ser das pessoas e não somente em momentos pontuais..
Retomando as três dimensões fundamentais do único ser humano: a exterioridade, a interioridade e a profundidade.
A exterioridade humana: a corporeidade. A exterioridade é tudo o que diz respeito ao conjunto de relações que o ser humano entretém com o universo, com a natureza, com a sociedade, com os outros e com sua própria realidade concreta em termos de cuidado com o ar que respira, com os alimentos que consome/comunga,com a água que bebe,com a roupas que veste e com as energias que vitalizam sua corporeidade. Normalmente se entende essa dimensão como corpo. Mas corpo não é um cadáver. É o próprio ser humano todo inteiro mergulhado no tempo e na matéria, corpo vivo, dotado de inteligência, de sentimento, de compaixão, de amor e de êxtase. Esse corpo total vive numa trama de relações para fora e para além de si mesmo. Tomado nessa acepção fala-se hoje de corporeidade ao invés de simplesmente corpo.
A interioridade: a psiqué humana. A interioridade é constituída pelo universo da psiqué, tão complexo quanto o mundo exterior, habitado por instintos, pelo desejo, por paixões, por imagens poderosas e por arquétipos ancestrais. O desejo constitui, possivelmente, a estrutura básica da psiqué humana. Sua dinâmica é ilimitada. Como seres desejantes, não desejamos apenas isso e aquilo. Desejamos tudo e o todo. O obscuro e permanente objeto do desejo é o Ser em sua totalidade. A tentação é identificar o Ser com alguma de suas manifestações, como a beleza, a posse, o dinheiro, a saúde, a carreira profissional e a namorada, o namorado, os filhos, assim por diante. Quando isso ocorre, surge a fetichização do objeto desejado. Significa a ilusória identificação do absoluto com algo relativo, do Ser ilimitado com o ente limitado. O efeito é a frustração porque a dinâmica do desejo de querer o todo e não a parte se vê contrariada. Daí, no termo, predominar o sentimento de irrealização e, conseqüentemente, o vazio existencial.
O ser humano precisa sempre cuidar e orientar seu desejo para que ao passar pelos vários objetos de sua realização – é irrenunciável que passe - não perca a memória bem aventurada do único grande objeto que o faz descansar, o Ser, o Absoluto, a Realidade fontal, Aquele que orienta e guia o nosso ser. O Deus que aqui emerge não é simplesmente o Deus das religiões, mas o Deus da caminhada pessoal, aquela instância de valor supremo, aquela dimensão sagrada em nós, inegociável e intransferível. Essas qualificações configuram aquilo que, existencialmente, chamamos de Deus.
A interioridade é também denominada também de mente humana, entendida como a totalidade do ser humano voltada para dentro, captando todas as ressonâncias que o mundo da exterioridade provoca dentro dele.
A profundidade: o espírito. Por fim o ser humano possui profundidade. Tem a capacidade de captar o que está além das aparências, daquilo que se vê, se escuta, se pensa e se ama. Apreende o outro lado das coisas, sua profundidade. As coisas todas não são apenas coisas. Todas elas possuem uma terceira margem. São símbolos e metáforas de outra realidade que as ultrapassa e que elas recordam, trazem presente e a ela sempre remetem.
Assim a montanha não é apenas montanha. Em sendo montanha, traduz o que significa majestade. O mar evoca grandiosidade; o céu estrelado, infinitude; os olhos profundos de uma criança, o mistério da vida humana e do universo.
O ser humano capta valores e significados e não apenas fatos e acontecimentos. O que definitivamente conta não são as coisas que nos acontecem, mas o que elas significam para a nossa vida e que experiências elas nos propiciam. As coisas, então, passam a ter caráter simbólico e sacramental: nos recordam o vivido e alimentam nossa interioridade. Não é sem razão que enchemos nossa casa ou o nosso quarto de fotos, de objetos queridos dos pais, dos avós, dos amigos, daqueles que entraram em nossa vida e significaram muito. Pode ser o último toco de cigarro do pai que morreu de enfarte ou o pente de madeira da tia que morreu ou a carta emocionada do namorado que revelou seu amor. Aqueles objetos não são mais objetos. São sacramentos, pois falam, recordam, tornam presente significados, caros ao coração.
Captar a profundidade do mundo desta forma, de si mesmo e de cada coisa constitui o que se chamou de espírito. Espírito não é uma parte do ser humano. É aquele momento da consciência mediante o qual captamos o significado e o valor das coisas. Mais ainda, é aquele estado de consciência pelo qual apreendemos o todo e a nós mesmos como parte e parcela deste todo.
O espírito nos permite fazer uma experiência de não-dualidade. “Tu és isso tudo” dizem os Upanishads da India, apontando para o universo. Ou “tu és o todo” dizem os yogis. “O Reino de Deus está dentro de vós” proclama Jesus. Estas afirmações remetem a uma experiência vivida e não a uma doutrina. A experiência é que estamos ligados e re-ligados uns aos outros e todos à Fonte Originante. Um fio de energia, de vida e de sentido perpassa a todos os seres, constituindo-os em cosmos e não em caos, em sinfonia e não disfonia.
A planta não está apenas diante de mim. Ela está como ressonância, símbolo e valor dentro de mim. Há em mim uma dimensão montanha, vegetal, animal, humana e divina. Espiritualidade não consiste em saber disso, mas em vivenciar e fazer disso tudo conteúdo de experiência. Blaise Pascal, um místico frances dizia: “crer em Deus não é pensar em Deus mas sentir Deus”. A partir da experiência tudo se transfigura. Tudo vem carregado de veneração e de sacralidade.
A singularidade do ser humano consiste em experimentar a sua própria profundidade. Auscultando a si mesmo percebe que emergem de seu profundo apelos de compaixão, de amorização e de identificação com os outros e com o grande Outro, Deus. Nós nos damos conta da Presença que sempre nos acompanha, de um Centro ao redor do qual se organiza nossa vida interior e a partir do qual se elaboram os grandes sonhos e as significações últimas da nossa vida. A fé cristã nos apresenta este mistério como mistério da trindade, Trindade de Ternura, que se relaciona e transborda de amor, ternura e misericórdia pelo ser humano. É a nossa energia originária, que integra todas as outras energias que fazem parte do nosso ser: energia sexual, emocional, intelectual.
Tornar-se filho e/ou filha de Deus pertence ao processo de acolher esta energia, criar espaço para esse Deus de ternura e auscultar seus apelos, integrando-os em nosso projeto de vida. É a espiritualidade no seu sentido antropológico de base. Para ter e alimentar espiritualidade a pessoa não precisa professar um credo ou aderir a uma instituição religiosa. A espiritualidade não é monopólio de ninguém, mas se encontra em cada pessoa e em todas as fases da vida. Essa profundidade em nós representa a condição humana espiritual, aquilo que designamos espiritualidade.
Obviamente para as pessoas religiosas, esse Centro é Deus e os apelos que dele derivam é sua Palavra. As religiões vivem desta experiência. Articulam-na em doutrinas, em ritos, celebrações e em caminhos éticos e espirituais. Sua função primordial reside em criar e oferecer condições para que cada pessoa humana e as comunidades possam fazer um mergulho na realidade divina e fazer a sua experiência pessoal de Deus.
Essa experiência porque é experiência e não doutrina tem como efeito a irradiação de serenidade, de profunda paz e de ausência do medo. A pessoa sente-se amada, acolhida e aconchegada num Utero divino, O que lhe acontecer, acontece no amor desta Realidade amorosa. Até a morte é exorcizada em seu caráter de espantalho da vida. É vivida como parte da vida, como o momento alquímico da grande transformação para poder estar, de fato, no Todo e no coração de Deus.
Esta espiritualidade é um modo de ser, uma atitude de base a ser vivida em cada momento e em todas as circunstâncias. Mesmo dentro das tarefas diárias da casa, trabalhando na fábrica, andando de carro, conversando com os amigos, vivendo a intimidade com a pessoa amada, a pessoa que criou espaço para a profundidade e para o espiritual está centrado, sereno e pervadido de paz. Irradia vitalidade e entusiasmo, porque carrega Deus dentro de si. Esse Deus é amor que no dizer do poeta Dante move o céu, todas as estrelas e o nosso próprio coração.
Esta espiritualidade tão esquecida e tão necessária é condição para uma vida integrada e singelamente feliz. Ela exorciza o complexo mais difícil de ser integrado: o envelhecimento e a morte. Para a pessoa espiritual o envelhecer e o morrer pertencem à vida, não matam a vida, mas transfiguram a vida, permitindo um patamar novo para a vida. Assim como ao nascer, nós mesmos não tivemos que nos preocupar, pois, a natureza agiu sabiamente e o cuidado humano zelou para que esse curso natural acontecesse, assim analogamente com a morte: passamos para outro estado de consciência sem nos darmos conta dessa passagem. Quando acordamos nos encontraremos nos braços aconchegantes do Pai e Mãe de infinita bondade, que desde sempre nos esperavam. Cairemos em seus braços. E então nos perdemos para dentro do amor e da fonte de vida.
Referencias bibliográficas
JUNGES, Nelson Espiritualidade e Mística, Corporeidade e Sexualidade. Artigo na internet:
BOFF, Leonardo (2001). Espiritualidade – Um Caminho de Transformação. Rio de Janeiro – Ed. Sextante
MOSER, Antonio (2001). O Enigma da Esfinge – A Sexualidade. Petrópolis- RJ. Editora Vozes
GRÜN, Anselm (2002) Mística e Eros. Curitiba – Lyra Editorial
FOUCAULT, Michel (2003)História da Sexualidade -1: A Vontade de Saber(15ª ed.). Rio de Janeiro – Graal
- (2003) História da sexualidade - 2: O Uso dos Prazeres(10ª Ed.) Rio de Janeiro – Graal
site de Leonardo Boff
http://entrelacosdocoracao.blogspot.com/2010/04/o-que-e-mistica-parte-iii.html
www.leonardoboff.com/site/.../espiritualidade.htm -


PARA REFLETIR........




O futuro é incerto. Amanhã o que vai ser de mim ?
Não é só questão de profissão. O que vou fazer de minha vida ?
O que vai me realizar ?
SER ou NÃO SER
O futuro dá medo. O novo, o desconhecido é sempre preocupante. Recebi um nome: Rio. Eu continuo caminhando porque o caminho tornou-se a minha força. Sou um Rio que se abre para a vida. Sou um rio alegre. Fecundo tudo ao longo das margens. Afinal, a minha vida não me pertence. Ela foi feita para ser doada, partilhada. Foi feita para o mar, para o novo, para o maior, para a partilha. E é isso que me impulsiona. Se não for assim torno-me como uma poça d’água, parada, que acaba apodrecendo.
O que você espera da vida?
A medida que caminho tenho que ir renovando as minhas forças. Apenas a minha vontade de caminhar não me garante o êxito da chegada. É que nessa minha dança frenética entre pedras e barrancos, às vezes, sinto que minhas forças diminuem. Imerso nos mil problemas, das correntes que me empurram para todos os lados, eu fico sem saber para onde caminhar, mas não posso parar diante das dificuldades. Então devo lançar-me uma, duas, muitas, infinitas vezes sobre as pedras para abrir passagem por onde caminhar.
Você já notou que raramente eu ando em linha reta? É que contornar montanhas e desviar-me de rochas não é apenas questão de gosto estético e geográfico. Na maioria das vezes é a minha única maneira de prosseguir... É este o segredo da vida! A vontade de viver, a ânsia de liberdade. E é isso que me mantém a cada dia mais forte, mais vivo.
Você gosta de viver?
Ao longo do meu caminho eu vou recebendo outras águas, pequenas, franzinas, outras mais fortes. Mas não importa o tamanho dessas águas, são elas que somadas, fazem de mim um rio. Elas mantém as minhas forças, ajudam a desafiar o desconhecido. Sei que devo ainda crescer, andar pra diante, compartilhar. Mas sei também que estou andando sobre um caminho meu, em direção ao mar, a minha felicidade.
Você sabe que as coisas começam pequenas, que o caminho começa com o primeiro passo?
Onde você deposita sua felicidade?
Para chegar ao lugar que quero, a felicidade, eu preciso canalizar as minhas águas por entre as pedras. Às vezes tenho que refreá-las e esperar momentos e condições adequadas para libertá-las. Ter consci6encia de que deixá-las correr livremente eu posso causar morte e destruição ao invés de vida.
Gostaria, gostaria muito que minhas águas pudessem correr livres e desimpedidas. Mas dispersá-las perderia força e iria correr o risco de não chegar ao mar.
E para você o que é a liberdade ?
Veja, as minhas águas continuam a jorrar. Gota a gota, levando fresdcor e alívio àqueles que estão sedentos. Sinto-me feliz em poder fazer issso. Sinto-me contente da vida que levo dentro de mim. Mas às vezes encontro terrenos áridos, secos, onde minhas águas aparecem. Então o meu orgulho me faz pensar que estou sendo magoado. Aí olho para as minhas margens e percebo com alegria, que não é a vida sendo desperdiçada, pelo contrário, é vida sendo compartilhada. O que eu dou cria possibilidade de vida para os outros. A natureza me retribui com as águas que vêm do alto revigorando-me, preenchendo-me de vida.
É um mistério. Um mistério que me faz muito feliz.
O que é que lhe faz feliz ?
Eu continuo caminhando para o mar e percebo em cada curva que posso ser útil. Vejo com alegria que cada dia é um novo dia, que me dá oportunidades de partilhar a vida. Meu objetivo é lançado no mar.
Esse é o sonho de todo Rio, conhecer a imensidão do Oceano. Mas, às vezes, eu sinto medo e é muito maior, maior do que eu. E é isso que me fascina e desafia. Essa mistura de medo e de fascínio que me impulsiona, me faz buscar. Se eu quiser chegar lá, o limite de ser é a imensidão.
Maria, Teresa, Cristina, José, João, Pedro...
para onde você está andando?
Onde você está indo ?
O que está procurando?

Os Estatutos do Homem (Ato Institucional Permanente)
Thiago de Mello A Carlos Heitor Cony


Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida, e de mãos dadas, marcharemos todos pela vida verdadeira.
Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.
Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.
Parágrafo único:
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.
Artigo V
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.
Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.
Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.
Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.
Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.
Artigo XI
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.
Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.
Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.
Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.
Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.

Santiago do Chile, abril de 1964 http://www.secrel.com.br/jpoesia/tmello.html#estat

ESCUTATÓRIA
Rubem Alves
Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular.
Escutar é complicado e sutil. Diz o Alberto Caeiro que “não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma“. Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Aí a gente que não é cego abre os olhos. Diante de nós, fora da cabeça, nos campos e matas, estão as árvores e as flores. Ver é colocar dentro da cabeça aquilo que existe fora. O cego não vê porque as janelas dele estão fechadas. O que está fora não consegue entrar. A gente não é cego. As árvores e as flores entram. Mas - coitadinhas delas - entram e caem num mar de idéias. São misturadas nas palavras da filosofia que mora em nós. Perdem a sua simplicidade de existir. Ficam outras coisas. Então, o que vemos não são as árvores e as flores. Para se ver e preciso que a cabeça esteja vazia.
Faz muito tempo, nunca me esqueci. Eu ia de ônibus. Atrás, duas mulheres conversavam. Uma delas contava para a amiga os seus sofrimentos. (Contou-me uma amiga, nordestina, que o jogo que as mulheres do Nordeste gostam de fazer quando conversam umas com as outras é comparar sofrimentos. Quanto maior o sofrimento, mais bonitas são a mulher e a sua vida. Conversar é a arte de produzir-se literariamente como mulher de sofrimentos. Acho que foi lá que a ópera foi inventada. A alma é uma literatura. É nisso que se baseia a psicanálise...) Voltando ao ônibus. Falavam de sofrimentos. Uma delas contava do marido hospitalizado, dos médicos, dos exames complicados, das injeções na veia - a enfermeira nunca acertava -, dos vômitos e das urinas. Era um relato comovente de dor. Até que o relato chegou ao fim, esperando, evidentemente, o aplauso, a admiração, uma palavra de acolhimento na alma da outra que, supostamente, ouvia. Mas o que a sofredora ouviu foi o seguinte: “Mas isso não é nada...“ A segunda iniciou, então, uma história de sofrimentos incomparavelmente mais terríveis e dignos de uma ópera que os sofrimentos da primeira.
Parafraseio o Alberto Caeiro: “Não é bastante ter ouvidos para se ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma.“ Daí a dificuldade: a gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração e precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor. No fundo somos todos iguais às duas mulheres do ônibus. Certo estava Lichtenberg - citado por Murilo Mendes: “Há quem não ouça até que lhe cortem as orelhas.“ Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil da nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos...
Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos, estimulado pela revolução de 64. Pastor protestante (não “evangélico“), foi trabalhar num programa educacional da Igreja Presbiteriana USA, voltado para minorias. Contou-me de sua experiência com os índios. As reuniões são estranhas. Reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio. (Os pianistas, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio, como se estivessem orando. Não rezando. Reza é falatório para não ouvir. Orando. Abrindo vazios de silêncio. Expulsando todas as idéias estranhas. Também para se tocar piano é preciso não ter filosofia nenhuma). Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio. Falar logo em seguida seria um grande desrespeito. Pois o outro falou os seus pensamentos, pensamentos que julgava essenciais. Sendo dele, os pensamentos não são meus. São-me estranhos. Comida que é preciso digerir. Digerir leva tempo. É preciso tempo para entender o que o outro falou. Se falo logo a seguir são duas as possibilidades. Primeira: “Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava eu pensava nas coisas que eu iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado.“ Segunda: “Ouvi o que você falou. Mas isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou.“ Em ambos os casos estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada. O longo silêncio quer dizer: “Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou.“ E assim vai a reunião.
Há grupos religiosos cuja liturgia consiste de silêncio. Faz alguns anos passei uma semana num mosteiro na Suíça, Grand Champs. Eu e algumas outras pessoas ali estávamos para, juntos, escrever um livro. Era uma antiga fazenda. Velhas construções, não me esqueço da água no chafariz onde as pombas vinham beber. Havia uma disciplina de silêncio, não total, mas de uma fala mínima. O que me deu enorme prazer às refeições. Não tinha a obrigação de manter uma conversa com meus vizinhos de mesa. Podia comer pensando na comida. Também para comer é preciso não ter filosofia. Não ter obrigação de falar é uma felicidade. Mas logo fui informado de que parte da disciplina do mosteiro era participar da liturgia três vezes por dia: às 7 da manhã, ao meio-dia e às 6 da tarde. Estremeci de medo. Mas obedeci. O lugar sagrado era um velho celeiro, todo de madeira, teto muito alto. Escuro. Haviam aberto buracos na madeira, ali colocando vidros de várias cores. Era uma atmosfera de luz mortiça, iluminado por algumas velas sobre o altar, uma mesa simples com um ícone oriental de Cristo. Uns poucos bancos arranjados em “U“ definiam um amplo espaço vazio, no centro, onde quem quisesse podia se assentar numa almofada, sobre um tapete. Cheguei alguns minutos antes da hora marcada. Era um grande silêncio. Muito frio, nuvens escuras cobriam o céu e corriam, levadas por um vento impetuoso que descia dos Alpes. A força do vento era tanta que o velho celeiro torcia e rangia, como se fosse um navio de madeira num mar agitado. O vento batia nas macieiras nuas do pomar e o barulho era como o de ondas que se quebram. Estranhei. Os suíços são sempre pontuais. A liturgia não começava. E ninguém tomava providências. Todos continuavam do mesmo jeito, sem nada fazer. Ninguém que se levantasse para dizer: “Meus irmãos, vamos cantar o hino...“ Cinco minutos, dez, quinze. Só depois de vinte minutos é que eu, estúpido, percebi que tudo já se iniciara vinte minutos antes. As pessoas estavam lá para se alimentar de silêncio. E eu comecei a me alimentar de silêncio também. Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia. Eu comecei a ouvir. Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde não há palavras. E música, melodia que não havia e que quando ouvida nos faz chorar. A música acontece no silêncio. É preciso que todos os ruídos cessem. No silêncio, abrem-se as portas de um mundo encantado que mora em nós - como no poema de Mallarmé, A catedral submersa, que Debussy musicou. A alma é uma catedral submersa. No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Me veio agora a idéia de que, talvez, essa seja a essência da experiência religiosa - quando ficamos mudos, sem fala. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão linda nos faz chorar. Para mim Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também. Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto... (O amor que acende a lua, pág. 65.)
Fonte: http://rubemalves.locaweb.com.br/hall/wwpct3/newfiles/escutatoria.php
DESAPRENDER, UMA TAREFA CRISTÃ URGENTE
Víctor Codina, SJ.
Desde nossa infância estamos habituados à necessidade de aprender: aprender a falar, aprender a brincar, aprender sempre novos conhecimentos e matérias na escola, colégio e na universidade, aprender a nadar, a dirigir, a tocar instrumentos musicais, aprender a usar as novas técnicas da computação, Internet e do mundo digital.
Hoje os grandes pedagogos fazem questão de que numa sociedade de profundas mudanças não basta aprender conhecimentos, o que se deve é “aprender a aprender”.
Na Igreja também estamos acostumados à necessidade de aprender: aprender a rezar, aprender o catecismo para a primeira comunhão, aprender os mandamentos e os preceitos da Igreja, aprender a conhecer a Bíblia, a liturgia, a doutrina da Igreja, os dogmas, os concílios, a doutrina social e os documentos da Igreja latinoamericana.
Tudo isto é muito certo e sem dúvida positivo. Então, por que falar de desaprender? Será um convite à ignorância, ao obscurantismo, à irracionalidade, ao infantilismo? Sem dúvida é necessário aprender e “aprender a aprender”, mas para que isto seja realmente possível muitas vezes deve-se aprender também a desaprender.
MUDANÇAS DE PARADIGMA
Para explicar este aparente paradoxo deve-se afirmar que ao que aprendemos normalmente se somam os conhecimentos anteriores, nossos conhecimentos crescem de algum modo quantitativamente, em continuidade homogênea com o que já sabíamos anteriormente. Mas às vezes se experimenta uma ruptura epistemológica com o anteriormente aprendido, há uma mudança de paradigma que nos obriga a abrir-nos para algo qualitativamente novo, inesperado, que não se pode justapor ao anterior. Isto que sucede em momentos de grandes mudanças culturais, acontece também dentro da Igreja. Neste caso deve-se começar por desaprender o até agora aprendido e abrir-se à novidade e reaprender. Mas isto não é tão fácil assim.
Sem dúvida, a memória é uma faculdade necessária para poder viver humana e dignamente. Sem ela não há vida humana, nem identidade pessoal, nem história. A amnésia e o Alzheimer são danos com trágicas conseqüências. Mas às vezes a memória nos coloca em apertos, enquista-se e endurece, impedindo-nos de avançar, arrogando-se a qualidade de juiz absoluto da verdade, não permite que fiquemos aberto ao novo, tanto nos conhecimentos humanos como na vida cristã. Na vida cristã há fixações tão fortes do aprendido no passado como algo eterno e imutável, que é muito difícil avançar sem antes desaprender. Não é esta a explicação dos inúmeros fundamentalismos, conservadorismos, tradicionalismos e da própria doutrina de Lefebvre?
ALGUNS EXEMPLOS CONCRETOS
Sem nenhuma pretensão de exaustividade, proponhamos alguns exemplos de idéias e imaginários coletivos que devemos desaprender.
Temos que desaprender a imagem de um Deus todo-poderoso, juiz terrível que nos vigia continuamente com seu olho policial e que quer encontrar-nos in fraganti para nos castigar e enviar-nos ao inferno. Se não desaprendermos esta imagem de Deus não poderemos abrir-nos ao Deus de Jesus, Pai-Mãe misericordioso e compassivo que quer nossa felicidade, e enviou seu Filho Jesus não para condenar senão para salvar e dar vida, e que nos comunica seu Espírito para que vivamos uma nova vida que nunca se acaba.
Temos que desaprender a idéia de que Jesus é um Deus disfarçado de homem, uma espécie de turista divino que desempenha o papel de homem, que sabe tudo e que passa por este mundo sem comover-se com a miséria humana. Se não abandonarmos esta imagem não poderemos conhecer o mistério de Jesus de Nazaré, homem como nós em tudo, menos no pecado, que se comove diante de nossas misérias, passa pelo mundo fazendo o bem, anuncia o Reino, aceita a morte como conseqüência de suas opções pela justiça e pela verdade e é ressuscitado. Jesus, através de sua vida realmente humana, revela-nos seu mistério profundo: ele é o Filho que o Pai enviou a este mundo para que, pelo dom do Espírito Santo, possamos viver a filiação divina e a fraternidade humana, para que tenhamos vida em abundância.
Temos que desaprender com urgência a idéia de que a Igreja se identifica com o Papa, cardeais, bispos e sacerdotes e recuperaremos a idéia de uma Igreja povo de Deus, formada por todos os batizados, que temos o dom do Espírito Santo e na qual somos membros ativos e responsáveis da comunidade eclesial, na qual cada um contribui com seus dons e carismas, hierárquicos e não hierárquicos.
Temos que desaprender a idéia de que fora da Igreja não há salvação e abrir-nos à vontade salvífica de Deus que é universal e por meio de seu Espírito faz chegar a graça de Cristo a todos por caminhos para nós misteriosos e Temos que aprender a dialogar e enriquecer-nos com todas as religiões da humanidade, que constituem o fruto do Espírito.
Temos que desaprender a idéia de que Maria é o centro da vida cristã, a boa mãe que nos protege e nos defende diante de um Deus terrível e justiceiro, e Temos que recuperar a verdadeira imagem de Maria de Nazaré, mãe de Jesus e nossa mãe, mulher do povo e profética que nos encaminha a Jesus, único mediador entre Deus e a humanidade e nos pede que façamos o que ele nos diga, como ela sugeriu aos servos de Caná.
Temos que desaprender a idéia de que os sacramentos são fontes mágicas de graça e recuperar a idéia de que são sacramentos da fé, que só fazem sentido a partir da fé da Igreja, iluminam-se à luz da Palavra e exigem de nós uma resposta pessoal e comunitária.
Temos que desaprender a idéia de que as crianças que morrem sem o batismo sofrem, produzem castigos ou que vão ao limbo e abrir-nos a uma visão cristã mais evangélica e séria que crê que o Pai de bondade e misericórdia acolhe em seu seio a todos as crianças que morreram sem culpa pessoal e as introduz em seu Reino.
Temos que desaprender a idéia de que ser cristão consiste antes de mais nada em acreditar em verdades e praticar alguns mandamentos e recuperar a idéia de que só se começa a ser cristão por um encontro pessoal com o Senhor, que muda nossa vida e nos leva a seguir Jesus, pois sem este encontro pessoal nem os dogmas nem as normas se sustentam.
Temos que desaprender a idéia de que o sexto mandamentos é o centro da vida cristã e que todo pecado deliberado em matéria sexual é pecado mortal, e abrir-nos a uma visão mais plena da vida cristã que deve estar centrada no amor a Deus e no próximo, na justiça, respeito e na solidariedade, horizonte onde se deve situar toda a vida cristã, incluindo a sexualidade.
Temos que desaprender a idéia de que o homem pode explorar impunemente a criação e, em compensação, recuperar a idéia bíblica de que Temos que respeitar a terra e a natureza, não abusar de forma egoísta dela para lucro de uma minoria, senão apreciá-la como dom de Deus que deve servir para o bem de todas as gerações.
Temos que desaprender o imaginário de que o purgatório é um inferno abreviado onde as almas sofrem o castigo do fogo e acreditar que em nosso encontro com o Senhor na morte é um abraço amoroso que ao mesmo tempo nos purifica de todas as aderências ao pecado.
A lista de temas que devemos desaprender poderia ficar mais longa, incluindo aspectos referentes à exegese bíblica, à moral, espiritualidade, escatologia, teologia do Espírito e da teologia trinitaria e à noção da Providência etc. Bastam estes exemplos para mostrar o importante, necessário e urgente que é aprender a desaprender.
NÃO EXTINGAMOS O ESPÍRITO
O último motivo de tudo isso não é só humanístico senão teológico: se o Espírito do Senhor é o que nos conduz cada vez a uma verdade mais plena (Jn 16,13), não podemos encerrar-nos num passado já superado, senão abrir-nos à novidade do Espírito e discernir os sinais dos tempos. Mas para isso Temos que aprender “a desaprender” muitas coisas. Assim poderemos reaprender a novidade do Espírito.
LIBERDADE PARA VOAR ...

Para as gaivotas é mais importante comer do que voar.
Mas para Jônatas é diferente, ficava horas voando, sozinho, enquanto os outros procuravam e se batiam pelo alimento. Para ele o mais importante era voar!
Jônatas estava preocupado em voar e seus pais estavam preocupados com ele. Sua mãe lhe dizia: “Jônatas, você precisa comer, está só penas e ossos, vai acabar morrendo...” Ao que Jônatas respondia: “Que importa morrer, o importante é voar, aprender, progredir!”
Seu pai também lhe dizia: ”Por que esta mania de ser diferente? Voar é mesmo um grande dom. Mas desde que o mundo é mundo, a gente voa para comer!”
Não querendo deixar seus pais aflitos, Jônatas voltou ao convívio do bando, tentando ser igual a todos os outros. Com muito esforço agüentou por algum tempo. Mas no final, resolveu voltar a voar. Lá estava ele novamente sozinho, longe do bando, voando.
Faminto, mas feliz.

Elevou-se a grandes alturas. Foi tentando todos os tipos de vôos. Voava na escuridão. Tentava sempre mais se aperfeiçoar. Um dia, num dos seus treinos, caiu de grandes alturas, batendo-se fortemente contra as águas. Parecia o fim, pensou que ia morrer. Nesta situação ouviu uma voz que lhe dizia: “Volta para o bando Jônatas, gaivota
nasceste e gaivota não deixarás de ser.” Jônatas seguindo esta voz pensou, basta de desafios, basta já de frustrações. Se fosse para voar no escuro você teria nascido com olhos de coruja, se fosse para voar nas alturas você teria as asas curtas do falcão... asas curtas do falcão? É isso, asas curtas... e Jônatas sem lembrar do perigo que acabava de correr colocou suas asas bem rente ao corpo e se elevou nas alturas, esquecido das frustrações, da solidão...
O dia encontrou Jônatas ainda voando e pensando, vou contar ao bando, consegui algo muito importante para todos nós. E assim pensando foi chegando para o bando. Lá encontrou uma reunião solene em que o chamavam para o centro do círculo. Logo pensou, vão perguntar como eu consegui ficar tão alto. Mas o que recebeu foi a exclusão. Foi banido do grupo porque tentava voar e não seguia a lei do bando: voar para comer. Jônatas
não conseguiu entender o porquê do banimento.

Jônatas passou então a viver solitário. Fazendo o que mais amava na vida: voar. Aprendia cada dia mais sobre a sua arte. Todo tipo de vôo. Inclusive uma maneira nova de encontrar alimento, dava um mergulho a três metros e conseguia um peixe gostoso para a sua refeição. Foi nesta situação que um belo dia encontrou outras duas gaivotas voando com a mesma facilidade que ele. Ele pensava que já havia aprendido tudo e já estava velho e cansado, mas eis que os seus companheiros de vôo vieram lhe propor novos desafios. Com Sullivan e o velho Chiang, Jônatas começou a descobrir mais ainda sobre a arte de voar.

A uma de suas perguntas sobre o porquê de haver tão poucas gaivotas que quisessem voar Sullivan respondeu: “Infelizmente não são muitos que podem compreender que o nosso fim da vida é buscar a perfeição que supera a lei do bando: simples voar para comer! A cada esforço feito corresponde um mundo novo. E assim se busca a perfeição.

O velho Chiang diz a Jônatas: “Isto não é o paraíso Jônatas, a gente nunca para de aprender. Quando atingir a velocidade perfeita, começará a se aproximar do paraíso. Velocidade perfeita não se mede em quilômetros. Velocidade perfeita é você já estar lá onde quer estar agora... transpor tempo e espaço... elevar-se às grandes esferas e penetrar o grande segredo da bondade e do amor!”


Voltando para o seu bando, Jônatas começa a fazer alunos, são os banidos do bando porque também gostam de voar. Alunos que querem voar pela alegria de voar!
Jônatas dizia a seus alunos: “Cada um de vocês é imagem da Grande Gaivota, uma idéia infinita de liberdade... Nossos treinos cotidianos de vôo lento, veloz, acrobático, é um passo no azul fantástico para superar nossos limites, para expressar nosso ser... É muito justo que a gaivota voe livre se nasceu para voar e despreze e vença tudo o que lhe impede de voar (seja um rito, uma superstição, uma proibição). A única lei verdadeira é a que conduz à liberdade.”

Um dia, um de seus melhores alunos Fletcher, pergunta a Jônatas: “Por que é tão difícil convencer uma gaivota de que é livre para voar?
Jônatas responde: “Na verdade é uma conquista, basta só exercitar... pode e deve amar.
Como você faz para amar a quem de fato quis te matar?
“Não é de ódios, nem de maldades que a gente vai buscar, mas do pouco bem que há em cada um (a) de seus (suas) irmãos (ãs) para ajudá-los (las) a que em si descubram todo o bem que desconhecem , é um dom que as grandes almas dignifica e enobrece.”

Você deve lembrar-se de muitas outras coisas sobre o que viu no vídeo. Estes pensamentos são para ajudar a pensar no que afinal para nós é a liberdade e conhecer um pouco mais do que ela significa para você. Deus nos criou livres para voar. Para estar com Ele em todos os momentos. Para ajudar na reflexão aqui estão algumas perguntas.


REFLEXÃO

1º momento - pessoalmente – 30 minutos

1 - Para mim, o que é ser livre? Qual a citação bíblica que mais me fala sobre “ser livre”
2 - Você já sentiu, alguma vez, a alegria de uma descoberta única, só sua?
3 - Você já sentiu o desejo de realizar esta descoberta?
4 - Você foi capaz de assumir o desafio como Jônatas? Qual o texto bíblico que este desafio lembra para você.
5 - O que a impede de ser livre?
6 - Você já sentiu vontade de desistir? O que a ajudou a recomeçar?

2º momento – em trios
Colocar em comum as três primeiras perguntas
1 - Para mim, o que é ser livre? Qual a citação bíblica que mais me fala sobre “ser livre”
2 - Você já sentiu, alguma vez, a alegria de uma descoberta única, só sua?
3 - Você já sentiu o desejo de realizar esta descoberta?


3º momento – juntar dois trios

Colocar em comum as três últimas perguntas.
4 - Você foi capaz de assumir o desafio como Jônatas? Qual o texto bíblico que este desafio lembra para você.
5 - O que a impede de ser livre?
6 - Você já sentiu vontade de desistir? O que a ajudou a recomeçar?

A) Escolher um dos desafios assumidos e que foram relatados para apresentar no plenário, de maneira criativa.
B) Escolher um texto bíblico que fundamente o desafio assumido pelo grupo para ser apresentado.


4º momento - plenário

Cada grupo terá 20 minutos para apresentar seu desafio.

Boa reflexão, grande criatividade e muita liberdade...

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Resumo Vidas Secas

Em meio à paisagem hostil do sertão nordestino, quatro pessoas e uma cachorrinha se arrastam numa peregrinação silenciosa _ _ . O menino mais velho, exausto da caminhada sem fim, deita-se no chão, incapaz de prosseguir, o que irrita Fabiano, seu pai, que lhe dá estocadas com a faca no intuito de fazê-lo levantar. Compadecido da situação do pequeno, o pai toma-o nos braços e carrega-o, tornando a viagem ainda mais modorrenta _ .

A cadela Baleia acompanha o grupo de humanos agora sem a companhia do outro animal da família, um papagaio, que fora sacrificado na véspera a fim de aplacar a fome que se abatia sobre aquelas pessoas. Na verdade, era um papagaio estranho, que pouco falava, talvez porque convivesse com gente que também falava pouco _ _ .

Errando por caminhos incertos, Fabiano e família encontram uma fazenda completamente abandonada. Surge a intenção de se fixar por ali. Baleia aparece com um preá entre os dentes, causando grande alegria aos seus donos. Haveria comida. Descendo ao bebedouro dos animais, em meio à lama, Fabiano consegue água. Há uma alegria em seu coração, novos ventos parecem soprar para a sua família. Pensa em Seu Tomás da bolandeira. Pensa na mulher e nos filhos.

A inesperada caça é preparada, o que garante um rápido momento de felicidade ao grupo. No céu, já escuro, uma nuvem - sempre um sinal de esperança. Fabiano deseja estabelecer-se naquela fazenda. Será o dono dela. A vida melhorará para todos _ .

Fabiano

Em vão Fabiano procura por uma raposa. Apesar do fracasso da empreitada, ele está satisfeito. Pensa na situação da família, errante, passando fome, quando da chegada àquela fazenda. Estavam bem agora _ _ . Fabiano se orgulha de vencer as dificuldades tal qual um bicho. Agora ele era um vaqueiro, apesar de não ter um lugar próprio para morar. A fazenda aparentemente abandonada tinha um dono, que logo aparecera e reclamara a posse do local. A solução foi ficar por ali mesmo, servindo ao patrão, tomando conta do local. Na verdade, era uma situação triste, típica de quem não tem nada e vive errante. Sentiu-se novamente um animal, agora com uma conotação negativa. Pouco falava, admirava e tentava imitar a fala difícil das pessoas da cidade. Era um bicho _ .

A uma pergunta de um dos filhos, Fabiano irrita-se. Para que perguntar as coisas? Conversaria com Sinha Vitória sobre isso. Essas coisas de pensamento não levavam a nada. Seu Tomás da bolandeira, apesar de admirado por Fabiano pelas suas palavras difíceis, não acabara como todo mundo? As palavras, as idéias, seduziam e cansavam Fabiano.

Pensou na brutalidade do patrão, a tratá-lo como um traste. Pensou em Sinha Vitória e seu desejo de possuir uma cama igual à de Seu Tomás da bolandeira. Eles não poderiam ter esse luxo, cambembes que eram. Sentiu-se confuso. Era um forte ou um fraco, um homem ou um bicho _ ? Sentia, por vezes, ímpeto de lutador e fraqueza de derrotado.

Lembrando dos meninos, novamente, achou que, quando as coisas melhorassem, eles poderiam se dar ao luxo daquelas coisas de pensar. Por ora, importante era sobreviver. Enquanto as coisas não melhorassem, falaria com Sinha Vitória sobre a educação dos pequenos.

Cadeia

Fabiano vai à feira comprar mantimentos, querosene e um corte de chita vermelha. Injuriado com a qualidade do querosene e com o preço da chita, resolve beber um pouco de pinga na bodega de seu Inácio. Nisso, um soldado amarelo convida-o para um jogo de cartas. Os dois acabam perdendo, o que irrita o soldado, que provoca Fabiano quando esse está de partida. A idéia do jogo havia sido desastrosa. Perdera dinheiro, não levaria para casa o prometido. Fabiano, agora, pensava em como enganar Sinha Vitória, mas a dificuldade de engendrar um plano o atormentava.

O soldado, provocador, encara o vaqueiro e barra-lhe a passagem. Pisa no pé de Fabiano que, tentando contornar a situação à sua maneira, agüenta os insultos até o possível, terminando por xingar a mãe do soldado amarelo. Destacamento à sua volta. Cadeia. Fabiano é empurrado, humilhado publicamente.

No xadrez, pensa por que havia acontecido tudo aquilo com ele. Não fizera nada, se quisesse até bateria no mirrado amarelo, mas ficara quieto. Em meio a rudes indagações, enfureceu-se, acalmou-se, protestou inocência _ . Amolou-se com o bêbado e com a quenga que estavam em outra cela. Pensou na família. Se não fosse Sinha Vitória e as crianças, já teria feito uma besteira por ali mesmo. Quando deixaria que um soldadinho daqueles o humilhasse tanto? Arquitetou vinganças, gritou com os outros presos e, no meio de sua incompreensão com os fatos, sentiu a família como um peso a carregar _ .

Sinha Vitória

Naquele dia, Sinha Vitória amanhecera brava. A noite mal dormida na cama de varas era o motivo de sua zanga. Falara pela manhã, mais uma vez, com Fabiano sobre a dificuldade de dormir naquela cama. Queria uma cama de lastro de couro, como a de Seu Tomás da bolandeira, como a de pessoas normais.

Havia um ano que discutia com o marido a necessidade de uma cama decente e, em meio a uma briga por causa das "extravagâncias" de cada um, Sinha Vitória certa vez ouviu Fabiano dizer-lhe que ela ficava ridícula naqueles sapatos de verniz, caminhando como um papagaio, trôpega, manca. A comparação machucou-a _ .

Agora, ela irritava-se com o ronco de Fabiano ao lembrar-se de suas palavras. Circulando pela casa, fazia suas tarefas em meio a reza e a atenção ao que acontecia lá fora. Por pensar ainda na cama e na comparação maldosa de Fabiano, quase esqueceu de pôr água na comida. Veio-lhe a lembrança do bebedouro em que só havia lama. Medo da seca. Olhou de novo para seus pés e inevitavelmente achou Fabiano mau _ . Pensou no papagaio e sentiu pena dele _ .

Lá fora, os meninos brincavam em meio à sujeira. Dentro de casa, Fabiano roncava forte, seguro, o que indicava a Sinha Vitória que não deveria haver perigo algum por ali. A seca deveria estar longe _ . As coisas, agora, pareciam mais estáveis, apesar de toda a dificuldade. Lembrou-se de como haviam sofrido em suas andanças. Só faltava uma cama. No fundo, até mesmo Fabiano queria uma cama nova.

O Menino mais novo

A imagem altiva do pai foi que lhe fez surgir a idéia. Fabiano, armado como vaqueiro, domava a égua brava com o auxílio de Sinha Vitória. O espetáculo grosseiro excitava o menor dos garotos, impressionado com a façanha do pai e disposto a fazer algo que também impressionasse o irmão mais velho e a cachorra Baleia _ . No dia seguinte, acordou disposto a imitar a façanha do pai. Para tanto, quis comunicar a intenção ao mano, mas evitou, com medo de ser ridicularizado.

Quando as cabras foram ao bebedouro, levadas pelo menino mais velho e por Baleia, o pequeno tomou o bode como alvo de sua ação. Sentia-se altivo como Fabiano quando montava. No bebedouro, o garoto despencou da ribanceira sobre o animal, que o repeliu. Insistente, tentou se aprumar mas foi sacudido impiedosamente, praticando um involuntário salto mortal que o deixou, tonto, estatelado ao chão. O irmão mais velho ria sem parar do ridículo espetáculo, Baleia parecia desaprovar toda aquela loucura _ . Fatalmente seria repreendido pelos pais. Retirou-se humilhado, alimentando a raivosa certeza de que seria grande, usaria roupas de vaqueiro, fumaria cigarros e faria coisas que deixariam Baleia e o irmão admirados.

O Menino mais velho

Aquela palavra tinha chamado a sua atenção: inferno. Perguntou à Sinha Vitória, vaga na resposta. Perguntou a Fabiano, que o ignorou. Na volta à Sinha Vitória, indagou se ela já tinha visto o inferno. Levou um cascudo e fugiu indignado. Baleia fez-lhe companhia tentando alegrá-lo naquela hora difícil.

Decidiu contar à cachorrinha uma história, mas o seu vocabulário era muito restrito, quase igual ao do papagaio que morrera na viagem _ . Só Baleia era sua amiga naquele momento. Por que tanta zanga com uma palavra tão bonita ? A culpa era de Sinha Terta, que usara aquela palavra na véspera, maravilhando o ouvido atento do garoto mais velho.

Olhou para o céu e sentiu-se melancólico. Como poderiam existir estrelas? Pensou novamente no inferno. Deveria ser, sim, um lugar ruim e perigoso, cheio de jararacas e pessoas levando cascudos e pancadas com a bainha da faca _ . Sempre intrigado, abraçou-se à Baleia como refúgio _ .

Inverno

Todos estavam reunidos em volta do fogo, procurando aplacar o frio causado pelo vento e pela água que agitava a paisagem fora da casa. Chegara o inverno, e isso reunia a família próxima à fogueira. Pai e mãe conversavam daquele jeito de sempre, estranho, e os meninos, deitados, ficavam ouvindo as histórias inventadas por Fabiano, de feitos que ele nunca tinha realizado, aventuras nunca vividas. Quando o mais velho levantou-se para buscar mais lenha, foi repreendido severamente pelo pai, aborrecido pela interrupção de sua narrativa.


A chuva dava à família a certeza de que a seca não chegaria por enquanto. Isso alegrava Fabiano. Sinha Vitória, porém, temia por uma inundação que os fizesse subir ao morro, novamente errantes. A água, lá fora, ampliava sua invasão.

Fabiano empolgava-se mais ainda em contar suas façanhas _ . A chuva tinha vindo em boa hora. Após a humilhação na cidade, decidira que, com a chegada da seca, abandonaria a família e partiria para a vingança contra o soldado amarelo e demais autoridades que lhe atravessassem o caminho. A chegada das águas interrompera aqueles planos sinistros. Em meio à narrativa empolgada, Fabiano imaginava que as coisas melhorariam a partir dali; quem sabe, Sinha Vitória até pudesse ter a cama tão desejada.

Para o filho mais novo, o escuro e as sombras geradas pela fogueira faziam da imagem do pai algo grotesco, exagerado. Para o mais velho, a alteração feita por Fabiano na história que contava era motivo de desconfiança. Algo não cheirava bem naquele enredo _ . Sempre pensativo, o menino mais velho dormiu pensando na falha do pai e nos sapos que estariam lá fora, no frio.

Baleia, incomodada com a arenga de Fabiano, procurava sossego naquela paisagem interior. Queria dormir em paz, ouvindo o barulho de fora _ .

Festa

A família foi à festa de Natal na cidade. Todos vestidos com suas melhores roupas, num traje pouco comum às suas figuras, o que lhes dava um ar ridículo. A caminhada longa tornava-se ainda mais cansativa por causa daquelas roupas e sapatos apertados. O mal-estar era geral, até que Fabiano cansou-se da situação e tirou os sapatos, metendo as meias no bolso, livrando-se ainda do paletó e da gravata que o sufocava. Os demais fizeram o mesmo. Voltaram ao seu natural. Baleia juntou-se ao grupo _ .

Chegando à cidade, foram todos lavar-se à beira de um riacho antes de se integrarem à festa. Sinha Vitória carregava um guarda-chuva. Fabiano marchava teso. Os meninos maravilham-se, assustados, com tantas luzes e gente. A igreja, com as imagens nos altares, encantou-os mais ainda. O pai espremia-se no meio da multidão, sentindo-se cercado de inimigos. Sentia-se mangado por aquelas pessoas que o viam em trajes estranhos à sua bruta feição. Ninguém na cidade era bom. Lembrou-se da humilhação imposta pelo soldado amarelo quando estivera pela última vez na cidade.

A família saiu da igreja e foi ver o carrossel e as barracas de jogos. Como Sinha Vitória negou-lhe uma aposta no bozó, Fabiano afastou-se da família e foi beber pinga _ . Embriagando-se, foi ficando valente. Imaginava, com raiva, por onde andava o soldado amarelo. Queria esganá-lo. No meio da multidão, gritava, provocava um inimigo imaginário _ . Queria bater em alguém, poderia matar se fosse o caso _ . Vez ou outra, interrompia suas imprecações para uma confusa reflexão. Cansado do seu próprio teatro, Fabiano deitou no chão, fez das suas roupas um travesseiro e dormiu pesadamente.

Sinha Vitória, aflita, tinha que olhar os meninos, não podia deixar o marido naquele estado. Tomando coragem para realizar o que mais queria naquele momento, discretamente esgueirou-se para uma esquina e ali mesmo urinou. Em seguida, para completar o momento de satisfação, pitou num cachimbo de barro pensando numa cama igual à de seu Tomas da bolandeira .

Os meninos também estavam aflitos. Baleia sumira na confusão de pessoas, e o medo de que ela se perdesse e não mais voltasse era grande. Para alívio dos pequenos, a cachorrinha surge de repente e acaba com a tensão. Restava, agora, aos pequenos, o maravilhamento com tudo de novo que viam. O menor perguntou ao mais velho se tudo aquilo tinha sido feito por gente. A dúvida do maior era se todas aquelas coisas teriam nome. Como os homens poderiam guardar tantas palavras para nomear as coisas _ ?

Distante de tudo, Fabiano roncava e sonhava com soldados amarelos.

Baleia

Pêlos caídos, feridas na boca e inchaço nos beiços debilitaram Baleia de tal modo que Fabiano achou que ela estivesse com raiva. Resolveu sacrificá-la. Sinha Vitória recolheu os meninos, desconfiados, a fim de evitar-lhes a cena.

Baleia era considerada como um membro da família, por isso os meninos protestaram, tentando sair ao terreiro para impedir a trágica atitude do pai. Sinha Vitória lutava com os pequenos, porque aquilo era necessário, mas aos primeiros movimentos do marido para a execução, lamentou o fato de que ele não tivesse esperado mais para confirmar a doença da cachorrinha.

Ao primeiro tiro, que pegou o traseiro da cachorra e inutilizou-lhe uma perna, as crianças começaram a chorar desesperadamente.

Começou, lá fora, o jogo estratégico da caça e do caçador. Baleia sentia o fim próximo, tentava esconder-se e até desejou morder Fabiano. Um nevoeiro turvava a visão da cachorrinha, havia um cheiro bom de preás. Em meio à agonia, tinha raiva de Fabiano, mas também o via como o companheiro de muito tempo. A vigilância às cabras, Fabiano, Sinha Vitória e as crianças surgiam à Baleia em meio a uma inundação de preás que invadiam a cozinha _ . Dores e arrepios. Sono. A morte estava chegando para Baleia.

Contas

Fabiano retirava para si parte do que rendiam os cabritos e os bezerros. Na hora de fazer o acerto de contas com o patrão, sempre tinha a sensação de que havia sido enganado. Ao longo do tempo, com a produção escassa, não conseguia dinheiro e endividava-se.

Naquele dia, mais uma vez Fabiano pedira a Sinha Vitória para que ela fizesse as contas. O patrão, novamente, mostrou-lhe outros números. Os juros causavam a diferença, explicava o outro. Fabiano reclamou, havia engano, sim senhor, e aí foi o patrão quem estrilou. Se ele desconfiava, que fosse procurar outro emprego. Submisso, Fabiano pediu desculpas e saiu arrasado, pensando mesmo que Sinha Vitória era quem errara.

Na rua, voltou-lhe a raiva. Lembrou-se do dia em que fora vender um porco na cidade e o fiscal da prefeitura exigira o pagamento do imposto sobre a venda. Fabiano desconversou e disse que não iria mais vender o animal. Foi a uma outra rua negociar e, pego em flagrante, decidiu nunca mais criar porcos _ .

Pensou na dificuldade de sua vida. Bom seria se pudesse largar aquela exploração. Mas não podia! Seu destino era trabalhar para os outros, assim como fora com seu pai e seu avô.

As notas em sua mão impressionavam-no. "Juros", palavra difícil que os homens usavam quando queriam enganar os outros. Era sempre assim: bastavam palavras difíceis para lograr os menos espertos. Contou e recontou o dinheiro com raiva de todas aquelas pessoas da cidade. Sinha Vitória é que entendia seus pensamentos.

Teve vontade de entrar na bodega de seu Inácio e tomar uma pinga. Lembrou-se da humilhação passada ali mesmo e decidiu ir para casa. o céu, várias estrelas. Deixou de lado a lembrança dos inimigos e pensou na família. Sentiu dó da cachorra Baleia. Ela era um membro da família.

O Soldado Amarelo

Procurando uma égua fugida, Fabiano meteu-se por uma vereda e teve o cabresto embaraçado na vegetação local. Facão em punho, começou a cortar as quipás e palmatórias que impediam o prosseguimento da busca. Nesse momento, depara-se com o soldado amarelo que o humilhara um ano atrás _ . O cruzar de olhos e o reconhecimento durou fração de segundos. O suficiente para que Fabiano esfolasse o inimigo. O soldado claramente tremia de medo. Também reconhecera o desafeto antigo e pressentia o perigo.

Fabiano irritou-se com a cena. O outro era um nadica. Poderia matá-lo com as mãos, sem armas, se quisesse. A fragilidade do outro aos poucos foi aplacando a raiva de Fabiano. Ponderou que ele mesmo poderia ter evitado a noite na cadeia se não tivesse xingado a mãe do amarelo. No meio daquela paisagem isolada e hostil, só os dois, e se ele pedisse passagem ao soldado? Aproximou-se do outro pensando que já tinha sido mais valente, mais ousado. Na verdade, na fração de segundo interminável Fabiano ia descobrindo-se amedrontado. Se ele era um homem de bem, para que arruinar a sua vida matando uma autoridade? Guardaria forças para inimigo maior.

Sentindo o inimigo acovardado, o soldado ganhou força. Avançou firme e perguntou o caminho. Fabiano tirou o chapéu numa reverência e ainda ensinou o caminho ao amarelo.

O Mundo Coberto de Penas

A invasão daquele bando de aves denunciava a chegada da seca. Roubavam a água do gado, matariam bois e cabras. Sinha Vitória inquietou-se. Fabiano quis ignorar, mas não pôde; a mulher tinha razão. Caminhou até o bebedouro, onde as aves confirmavam o anúncio da seca. Eram muitas. Um tiro de espingarda eliminou cinco, seis delas, mas eram muitas. Fabiano tinha certeza, agora, de uma nova peregrinação, uma nova fuga.

Era só desgraça atrás de desgraça. Sempre fugido, sempre pequeno. Fabiano não se conformava, pensava com raiva no soldado amarelo, achava-se um covarde, um fraco. Irado, matou mais e mais aves. Serviriam de comida, mas até quando ? Quem sabe a seca não chegasse...Era sempre uma esperança. Mas o céu escuro de arribações só confirmava a triste situação _ . Elas cobriam o mundo de penas, matando o gado, tocando a ele e à família dali, quem sabe comendo-os.

Recolheu os cadáveres das aves e sentiu uma confusão de imagens em sua cabeça. Aquele lugar não era bom de se viver. Lembrou-se de Baleia, tentou se convencer de que não fizera errado em matá-la, pensou de novo na família e no que as arribações representavam. Sim, era necessário ir embora daquele lugar maldito _ . Sinha Vitória era inteligente, saberia entender a urgência dos fatos.

Fuga

O céu muito azul, as últimas arribações e os animais em estado de miséria indicavam a Fabiano que a permanência naquela fazenda estava esgotada. Chegou um ponto em que, dos animais, só sobrou um bezerro, que foi morto para servir de comida na viagem que se faria no dia seguinte.

Partiram de madrugada, abandonando tudo como encontraram. O caminho era o do sul. O grupo era o mesmo que errava como das outras vezes. Fabiano, no fundo, não queria partir, mas as circunstâncias convenciam-no da necessidade.

A vermelhidão do céu, o azul que viria depois assustavam Fabiano _ . Baleia era uma imagem constante em seus confusos pensamentos. Sinha Vitória também fraquejava. Queria, precisava falar _ . Aproximou-se do marido e disse coisas desconexas, que foram respondidas no mesmo nível de atrapalhação.

Na verdade, ele gostou que ela tivesse puxado conversa. Ela tentou animar o marido, quem sabe a vida fosse melhor, longe dali, com uma nova ocupação para ele. Marido e mulher elogiam-se mutuamente; ele é forte, agüenta caminhar léguas, ela, tem pernas grossas e nádegas volumosas, agüenta também. A cidade, talvez, fosse melhor. Até uma cama poderiam arranjar. Por que haveriam de viver sempre como bichos fugidos _ ?

Os meninos, longe, despertavam especulações ao casal. O que seriam quando crescessem? Sinha Vitória não queria que fossem vaqueiros. O cansaço ia chegando à medida que avançava a caminhada, e assim houve uma parada para descanso. Novamente marido e mulher conversavam, fazendo planos, temendo o mau agouro das aves que voavam no céu.

Sinha Vitória acordou os pequenos, que dormiam, e seguiu-se viagem. Fabiano ainda admirou a vitalidade da mulher. Era forte mesmo! Assim, a cada passo arrastado do grupo um mundo de novas perspectivas ia sendo criado. Sinha Vitória falava e estimulava Fabiano. Sim, deveria haveria uma nova terra, cheia de oportunidades, distante do sertão a formar homens brutos e fortes como eles.

sábado, 2 de julho de 2011

Uma Reflexão

Reflexão
Uma Reflexão
Um homem sussurrou:

- Deus, fale comigo.

E um rouxinol começou a cantar.

Mas o homem não ouviu.
Então o homem repetiu:

-- Deus, fale comigo!

E um trovão ecoou nos céus.

Mas o homem foi incapaz de ouvir...

O Homem olhou em volta e disse:

- Deus, deixe-me vê-lo.

E uma estrela brilhou no céu.

Mas homem não a notou.

O homem começou a gritar:

- Deus, mostre-me um milagre

E uma criança nasceu

Mas o homem não sentiu o pulsar da vida...

Então o homem começou a chorar e a se desesperar:

- Deus, toque-me e deixe-me sentir que você está aqui.

E uma borboleta pousou suavemente e em seu ombro.

O homem espantou a borboleta com a mão e, desiludido,

continuou o seu caminho...

...Será que nós estamos preparados para perceber que

nem sempre o caminho que esperamos encontrar é o que

buscamos?

Será que não conseguimos vislumbrar outros caminhos que

se nos apresentam no nosso caminhar pela vida,

endurecidos na desilusão de nossas expectativas?

Será que não conseguimos perceber que a felicidade está

presente em caminhos diversos, e quanto a vida é rica de

oportunidades e que Deus está presente em cada partícula

do Universo.

E mesmo assim ficamos cegos à sua presença porque sua

manifestação não é como a esperávamos?

Pensem nisso, amigos. E vamos em busca da felicidade,

que se encontra, quem sabe, onde menos a esperamos:

DENTRO DE NÓS MESMOS...

PERMITA QUE DEUS FAÇA MORADA
EM SEU CORAÇÃO E EM SUA VIDA ! ELE TE AMA......

O TEMPO

Reflexões Amor, Fartura e Sucesso

Uma mulher saiu de sua casa e viu três homens com longas barbas brancas sentados em frente ao quintal dela. Ela não os reconheceu. Ela disse:

Acho que não os conheço, mas devem estar com fome.

Por favor entrem e comam algo.

- O homem da casa está? perguntaram.

- Não ela disse, está fora.

- Então não podemos entrar. Eles responderam.

A noite quando o marido chegou, ela contou-lhe o que aconteceu.

- Vá diga que estou em casa e convide-os a entrar.

A mulher saiu e convidou-os a entrar.

- Não podemos entrar juntos. Responderam.

- Por que isto ? Ela quis saber.

Um dos velhos explicou-lhe :

- Seu nome é Fartura. Ele disse apontando um dos seus amigos e mostrando o outro, falou:

- Ele é o Sucesso e eu sou o Amor.

E completou:

- Agora vá e discuta com o seu marido qual de nós você quer em sua casa.

A mulher entrou e falou ao marido o que foi dito.

Ele ficou arrebatado e disse:

- Que bom !

Ele disse :

- Neste caso. Vamos convidar Fartura.

Deixe-os vir e encher nossa casa de Fartura.

A esposa discordou :

- Meu marido, por que não convidamos o Sucesso ?

A cunhada deles ouvia do outro canto da casa.

Ela apresentou sua sugestão :

- Não seria melhor convidar o Amor ?

Nossa casa então estará cheia de amor.

- Atentamos pelo conselho da nossa cunhada.

Disse o marido para a esposa.

- Vá lá fora e chame o amor para ser nosso convidado.

A mulher saiu e perguntou aos três homens :

- Qual de vocês é o amor ?

Por favor entre e seja nosso convidado.

O amor levantou-se e seguiu em direção á casa.

Os outros dois levantaram-se e seguiram-no.

Surpresa a senhora perguntou-lhes:

- Apenas convidei o Amor, por que vocês entraram ?

Os velhos homens responderam juntos :

- Se você convidasse o Fartura ou o Sucesso, os outros dois esperariam aqui fora, mas se você convidar o Amor, onde ele for iremos com ele.

Onde há amor, há também Fartura e sucesso !!!

Nosso desejo para vocês :

Onde há dor, desejamos paz e perdão. Onde há dívidas próprias, desejamos confiança renovada em sua capacidade de lidar com elas. Onde há cansaço, ou exaustão, desejamos compreensão, paciência e força renovada. Onde há medo, desejamos amor e coragem.

Vida-Morte

LENÇOL SUJO!

Um casal, recém-casados, mudou-se para um bairro muito tranqüilo.

Na primeira manhã que passavam na casa, enquanto tomavam café, a mulher reparou atráves da janela em uma vizinha que pendurava lençóis no varal e comentou com o marido:

- Que lençóis sujos ela está pendurando no varal!

- Está precisando de um sabão novo. Se eu tivesse intimidade perguntaria se ela quer que eu a ensine a lavar as roupas!

O marido observou calado.

Alguns dias depois, novamente, durante o café da manhã, a vizinha pendurava lençóis no varal e a mulher comentou com o marido:

- Nossa vizinha continua pendurando os lençóis sujos! Se eu tivesse intimidade perguntaria se ela quer que eu a ensine a lavar as roupas!

E assim, a cada dois ou três dias, a mulher repetia seu discurso, enquanto a vizinha pendurava suas roupas no varal.

Passado um tempo a mulher se surpreendeu ao ver os lençóis muito brancos sendo estendidos, e empolgada foi dizer ao marido:

- Veja, ela aprendeu a lavar as roupas, será que outra vizinha ensinou?

O marido calmamente respondeu:

- Não, hoje eu levantei mais cedo e lavei os vidros da nossa janela!

E assim é.

Tudo depende da janela, através da qual observamos os fatos.

Antes de criticar, verifique se você fez alguma coisa para contribuir, verifique seus próprios defeitos e limitações. Olhe antes de tudo, para sua própria casa, para dentro de você mesmo.

Só assim poderemos ter noção do real valor de nossos amigos.

Lave sua vidraça.

Abra sua janela !!!

Não espere...

A PENAS UMA MALA!

Reflexões
Sua vida
Quando sua vida começa, você tem apenas uma mala pequenina de mão...

A medida em que os anos vão passando, a bagagem vai aumentando porque existem muitas coisas que você recolhe pelo caminho, por pensar que são importantes.

A um determinado ponto do caminho começa a ficar insuportável carregar tantas coisas, pesa demais, então você pode escolher: ficar sentado a beira do caminho, esperando que alguém o ajude, o que é difícil, pois todos que passarem por ali já terão sua própria bagagem.

Você pode ficar a vida inteira esperando, Ou você pode aliviar o peso, esvaziando a mala.

Mas, o que tirar ? Você começa tirando tudo para fora... veja o que tem dentro: Amor, Amizade...nossa ! Tem bastante, curioso, não pesa nada...

Tem algo pesado.... você faz força para tirar.... era a Raiva - como ela pesa !

Aí você começa a tirar, tirar e aparecem a Incompreensão, Medo, Pessimismo... nesse momento, o Desânimo quase te puxa pra dentro da mala .... Mas você puxa-o para fora com toda a força, e no fundo da mala aparece um Sorriso, que estava sufocado no fundo da sua bagagem....

Pula para fora outro sorriso e mais outro, e aí sai a Felicidade... Aí você coloca as mãos dentro da mala de novo tira pra fora um monte de Tristeza...

Agora, você vai ter que procurar a Paciência dentro da mala, pois vai precisar bastante....

Procure então o resto: a Força, Esperança, Coragem, Entusiasmo, Equilíbrio, Responsabilidade, Tolerância e o Bom e Velho Humor. Tire a Preocupação também. Deixe de lado, depois você pensa o que fazer com ela...

Bem, sua bagagem está pronta para ser arrumada de novo. Mas, pense bem o que vai colocar dentro da mala de novo, hein.

Agora é com você. E não se esqueça de fazer essa arrumação mais vezes, pois o caminho é MUITO, MUITO LONGO, e sua bagagem, poderá pesar novamente.

O Alpinista

O POTE RACHADO!

Reflexões
O Pote Rachado

Um carregador de água na Índia levava dois potes grandes, ambos pendurados em cada ponta de uma vara a qual ele carregava atravessado em seu pescoço.

Um dos potes tinha uma rachadura. Enquanto o outro era perfeito e sempre chegava cheio de água no fim da longa jornada entre o poço e a casa do chefe, o outro chegava apenas com a metade da água.

Foi assim por dois anos, diariamente: o carregador entregando um pote e meio de água na casa do chefe.

Claro que o pote estava orgulhoso de suas realizações.

Porém, o pote rachado estava envergonhado de sua imperfeição e sentindo-se miserável por ser capaz de realizar apenas metade do que ele havia designado a fazer.

Após perceber que por dois anos havia sido uma falha amarga, o pote falou para o homem, um dia a beira do poço:

Estou envergonhado e quero pedir-lhe desculpas.

Por que?

perguntou o homem

- De que você esta envergonhado?

Nestes dois anos eu fui capaz de entregar apenas a metade de minha carga, porque essa rachadura no meu lado faz com que a água vaze por todo o caminho da casa de seu senhor.

Por causa do meu defeito, você tem que fazer todo esse trabalho e não ganha o salário completo dos seus esforços. Disse o pote.

O homem ficou triste pela situação do velho pote, e com compaixão, falou: quando retornarmos para a casa do meu senhor, quero que percebas as flores ao longo do caminho.

De fato, a medida que eles subiam a montanha, o velho pote rachado notou as flores selvagens ao longo do caminho, e isto lhe deu certo ânimo.

Mas ao final da estrada, o pote rachado ainda se sentia mal porque tinha a metade e de novo, pediu desculpas ao homem por sua falha. Disse, então, o homem ao pote:

Você notou que pelo caminho só havia flores do seu lado?

eu, ao conhecer o seu defeito, tirei vantagem dele e lancei sementes de flores no seu caminho. E cada dia, enquanto voltavamos do poço, você as regava.

Por dois anos eu pude colher flores para ornamentar a mesa do meu senhor. Sem você ser do jeito que é, ele não poderia ter esta beleza para dar graça a sua casa.

"Cada um de nós temos os nossos "defeitos", todos nós somos potes rachados". Porém se permitirmos, podemos usar estes nossos defeitos para embelezar as nossas vidas.

Nunca devemos ter medo dos nossos defeitos.

Se os reconhecermos, eles poderão causar beleza.

Das nossas fraquezas podemos tirar forças.

Lembre-se sempre:

NUNCA TE JULGUES INÚTIL, DEUS TE FEZ SEM CÓPIA...

A gradeça a Deus todo dia!

A vizita do Zé!

A Visita
Cada dia, ao meio-dia, um pobre velho entrava na Igreja, e poucos minutos depois, saía.

Um dia, o sacristão lhe perguntou o que fazia (pois havia objetos de valor na Igreja).

Venho rezar, respondeu o velho.

Mas é estranho, disse o sacristão, que você consiga rezar tão depressa.

Bem, retrucou o velho, eu não sei recitar aquelas orações compridas.

Mas todo dia, ao meio-dia eu entro na Igreja e só falo:

- "Oi Jesus, eu sou o Zé, vim te visitar."

Num minuto, já estou de saída.

É só uma oraçãozinha, mas tenho certeza que Ele me ouve.

Alguns dias depois, o Zé sofreu um acidente e foi internado num hospital e, na enfermaria, passou a exercer uma influência sobre todos:

os doentes mais tristes se tornaram alegres, muitas risadas passaram a ser ouvidas.

Zé, disse-lhe um dia a irmã, os outros doentes dizem que você está sempre tão alegre....

É verdade, irmã, estou sempre tão alegre.

É por causa daquela visita que recebo todo dia.

Me faz tão feliz.

A irmã ficou atônita.

Já tinha notado que a cadeira encostada na cama do Zé estava sempre vazia.

O Zé era um velho solitário, sem ninguém.

- Que visita?

- A que hora?

- Todos os dias. Respondeu Zé;

com um brilho nos olhos.

Todos os dias ao meio-dia Ele vem ficar ao pé cama.

Quando olho para Ele, Ele sorri e diz:

-"Oi, Zé, eu sou Jesus, eu vim te visitar".