O QUE SERIA DE MIM SEM MINHAS AMIZADES...

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Conversa com a Samaritana Jo 4 , 5 -4 2

Jesus nos ensina a fazer a vontade de Deus pelo espírito e não pela razão.
   Este Evangelho nos mostra um diálogo muito interessante entre Jesus e a samaritana. No início, vamos observar o seu lado histórico, que nos conduzirá a um entendimento sobre a forma com que fazemos a vontade de Deus através da razão. Depois o diálogo vai nos conduzir a uma maior compreensão do divino, nos ensinando a fazer a vontade de Deus através do espírito.
   Para o entender melhor, é bom lembrar que Samaria era uma região que ficava entre a Galiléia e Jerusalém. No centro dela havia uma
cidade também com o nome de Samaria, e próxima dela a cidade de Sicar, onde se dá a cena aqui narrada. O povo de Samaria não se dava bem com o povo de Jerusalém e da Galiléia. O evangelista aproveita esta situação para nos mostrar um diálogo impressionante.
   A Igreja é santa e pecadora, mas o Espírito Santo atua nela, mostrando como buscar o sentido das coisas de Deus.
   Vimos, na leitura de Êxodo 17,3-7, a passagem na qual nos é mostrado que quem tem sede é o povo. Após serem retirados do Egito, encontravam-se os judeus privados de água e devorados pela sede. E Deus os sacia, fazendo sair água da rocha. Entendemos, portanto, que na aliança do Antigo Testamento era o povo que tinha sede e Deus lhes dava de beber. No Novo Testamento João nos mostra Jesus cansado, ao meio-dia (hora sexta). No meio de alguma coisa, Deus estava cansado. Toda aquela história, que havia começado no Antigo Testamento, estava pelo meio, pois ali se dava início ao Novo Testamento, quando Deus se apresenta "cansado e com sede". Portanto, no início da nova história, quem tem sede é Deus.
    Ao ver a mulher, Jesus pede a ela água do poço de Jacó, junto ao qual se encontravam (a cerca de mil metros de Sicar). O poço significa a profundidade do patriarcado do Antigo Testamento representado por Jacó (Israel). Era o poço do Pai Jacó. É por isso que a samaritana fala: "És, porventura, maior que o nosso pai Jacó, que nos deu este poço, do qual ele mesmo bebeu, com os seus filhos e os seus animais?"
    Mas, antes, diante da recusa da mulher, Jesus dissera: "Se conhecesses o dom de Deus e quem é que te diz: 'dá-me de beber', tu é que lhe pedirias e ele te daria água viva!". Jesus está dizendo então que teria condições de dar a ela uma água nova. Na verdade, Ele provoca a mulher, porque primeiro pede água e ao mesmo tempo lhe oferece uma água que ela não tinha, uma água nova.
    A samaritana responde a Jesus: "Senhor, nem sequer tens uma vasilha e o poço é profundo; de onde, pois, tiras esta água viva?". Isto é muito interessante, pois é como se ela dissesse: Você não tem como tirar a água do poço, ele é fundo, ou seja, o nosso coração é fundo. Isto é para dizer que Deus precisa de algo para tirar da profundidade do nosso coração essa água, princípio da vida. Deus quer precisar desse instrumento. Deus tem sede dessa água que está dentro de nós, mas precisa de nosso concurso, nossa cooperação, para retirá-la desse poço profundo que é o nosso coração.
    Mais adiante Jesus disse algo à mulher que, de início, nos parece uma questão sem sentido, sem importância: "Vai, chama o teu marido e volta aqui. Respondeu a mulher: 'Não tenho marido'. Jesus lhe disse: 'Falaste bem: 'não tenho marido', pois tiveste cinco e o que agora tens não é teu marido; nisto falaste a verdade.'" Afinal, o que tem o marido dela com aquela situação? Nada. Aparentemente, Jesus quis provocar a mulher, novamente, surpreendendo-a por saber a seu respeito.
    E já se passaram 2.000 anos sem que alguém percebesse o sentido disso. Acontecia que os samaritanos achavam que tinham de adorar a Deus no monte Horebe (que os judeus chamavam de monte Garizim), sobre o qual haviam construído um templo, e os judeus no templo de Jerusalém. O que estava mesmo em jogo não era o lugar de adorar, mas a estrutura das orações a Deus, isto é, havia divergência de opinião de como adorar a Deus. Por isso é que Jesus disse: "Acredita-me, mulher, vem a hora em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora – e é agora – em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade; pois tais são os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade".
    Para explicar tudo isso é que Jesus diz: "Falaste bem: 'não tenho marido', pois tiveste cinco e o que agora tens não é teu marido." O que é isto? Isto significa que queremos adorar a Deus pela razão, ou seja, pelo tato, pelo paladar, pela audição, pela visão e pelo olfato. É com isto que adoramos a Deus, com os nossos cinco sentidos. Jesus falou marido porque a figura era a mulher, que neste contexto é a razão, aquela que estava falando com Deus, naquele momento.
    Jesus não estava preocupado por ela ser samaritana. A mulher então voltou à cidade dizendo a todos: "Vinde ver um homem que me disse tudo o que fiz. Não seria ele o Cristo?" É claro que Deus nos conhece bem. Aqui, humanizado, usa da razão para nos chamar a atenção para coisas que não percebemos.
    Hoje a Igreja, para canonizar um santo, mesmo já sabendo tratar-se de um santo, exige três milagres comprovados. Nós costumamos cobrar de Deus através dos sentidos. Queremos ver Deus pelos sentidos. Por isso o alerta de Jesus. É como dissesse: Se vocês não aprenderem a ver Deus em espírito e verdade, não o adorarão em lugar nenhum.
    Ao esclarecer sobre fazer a vontade de Deus, Jesus diz: "Tenho para comer um alimento que não conheceis." E ainda: "O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e consumar a Sua obra." Conhecer a vontade de Deus e não fazer a nossa própria vontade, é o que precisamos aprender. Repetimos sempre que estamos fazendo a vontade de Deus, mas a todo momento tropeçamos por colocar nossa vontade, críticas e ciúmes à frente da vontade de Deus.
    Não pensamos, em momento algum, que o Espírito de Deus está no meio de nós, nos dirigindo para uma coisa maior. Preferimos nos abaixar até ao fundo do poço, sem balde. Preferimos só acreditar no Deus que cheiramos, que vemos, que degustamos, que ouvimos, que podemos tocar. No Deus que não vemos, e do qual se fala tanto, não acreditamos verdadeiramente, pois colocamos sempre nossa vontade, nossas situações adiante da grandeza do Espírito Santo.
   Este diálogo de Jesus com a samaritana é muito importante, pois nos leva a perceber a grandeza da vontade de Deus, nos conduzindo a uma mudança de atitude com relação à nossa vontade.
   Devemos adorá-lo em espírito, para percebermos a Sua presença no meio de nós. Ele é grandioso demais para ser adorado com os nossos sentidos, com aquilo que percebemos pela razão. "Vocês estão agindo somente sob o impulso da razão. Os olhos da matéria percebem a matéria. Os olhos do espírito percebem o espírito. Desenvolvam os olhos do espírito, que verão as coisas do espírito."


“Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, pois dele procedem as saídas da vida” – Pv. 4: 23.

Tudo o que é importante e relevante para Deus acontece e se desenrola justamente nos corações das pessoas. O centro da vida de alguém é seu coração. O coração simboliza o amor, não por acaso, mas por obra de Deus, que assim o fez. A consciência nele se perfaz. E a Bíblia nos diz que devemos “guardá-lo”, o coração, pois as saídas da vida dele procedem.
Esse verso é interessante, pois que se o virmos com “olhos” espirituais, muitos dogmas certamente cairão. “Guardar” o coração bem pode ser descrito como ter as atitudes certas perante Deus, acertar a condição pessoal que O agrade e ter, sentir e viver com base em virtudes e sentimentos que sejam consonantes com o Evangelho. Entretanto, como não é tarefa simples atingir esses alvos, tampouco é fácil interpretar com acurácia o verso em apreço.
Por ele, o verso, e nele refletindo, a vida dentro de uma igreja qualquer bem pode estar equivocada (em muitas delas, com certeza, suas liturgias e práticas estão bastante equivocadas), vez que nada tem de bom e sequer se aproxima do fato de “guardar” o coração (tampouco espelha a vontade de Deus). Em apertada síntese, posso estar presente de domingo a domingo em uma igreja, ser membro dela e freqüentador assíduo, ter mandato em diversos “ministérios”, mas, em verdade, simplesmente (e infelizmente) termino por não “guardar” meu coração. Dogmas e tradições “caem” sem dó quando finalmente entendemos o que seria/é o contínuo e constante ato de “guardar” nossos corações (em Cristo). De fato.
Como bem se vê tal situação é profunda. “Mergulhar” nela pode ser desagradável, mas decerto o resultado é muito revelador. E seguro. Quando finalmente entendemos que o coração reto está dissociado da vida cristã aparente, subimos de uma só vez vários degraus em direção ao Céu. Deus não olha aparências, Ele olha os corações (1 Samuel 16: 7). E é aí que a coisa toda se complica. Enganamos o Mundo com as aparências; porém, nunca lograremos enganar ao Senhor.
Por conta disso, guardemos nossos corações, pois as saídas da vida dependem disso, não da vida cristã “rezada” ou dos “métodos” humanos debaixo dos quais as pessoas se escondem (meras ilusões…). Como dito, não há como ludibriar o Criador. Um coração bem cuidado e disposto segundo o Evangelho de Jesus Cristo é a única e possível saída para a obtenção do almejado Prêmio Incorruptível, em honra. Muito cuidado, pois, com os “espetáculos circenses” (com todo respeito aos circos, frise-se), que nos envolvem facilmente e são extremamente comuns hodiernamente (guarde o seu coração).