Celebramos hoje o terceiro domingo da Páscoa do Senhor. As alegrias pascais são contágio e força para os discípulos reunidos em torno da atmosfera de vida e ressurreição. Enquanto não sabem bem o que fazer, apesar do Cristo ter-lhes manifestado sua vitória sobre a morte, os discípulos, iniciado por Pedro, voltam às atividades de pesca. Vão à noite, pois esta é a melhor hora para pescar. Entretanto, nada pescam; o sucesso não vem, apesar de se tratar de exímios pescadores. Estou todos na mesma barca; se ajudam, se empenham, mas, por alguma razão, os peixes não vêm.
Pela manhã, quando sobrevêm o sol, a luz, a possibilidade de ver melhor e mais longe, eis que surge aquele que brilha mais intenso do que o astro no céu: Jesus Cristo, o sol da justiça. Ele se coloca de pé junto à margem do rio. Coloca-se de sobreaviso; de prontidão. É solicito na ação. Não obstante, indaga-lhes: “tendes alguma coisa para comer?” Seu desejo é cear com eles; partilhar do alimento que sacia a fome; ser-lhes companhia. Deseja se colocar íntimo, próximo, amigo. É apenas um estranho: “Mas os discípulos não sabiam que era Jesus”, enfatiza-nos o texto. E como Mestre, ensina aos pescadores um jeito novo de pescar; instrui-lhes e propõe uma nova ação; incentiva-lhes uma outra tentativa: “Lançai a rede à direita da barca e achareis”. É quase uma ordem; um imperativo. É, igualmente, uma afirmação: lançai e achareis. À direita, como quem lhes dissesse: até agora agistes pelo lado contrário; não agistes bem. Foste pelo caminho errado, mas eu lhes indico um novo caminho: “lançai a rede à direita...” A direção indicada por Jesus é cheia de congraçamento e felicidade. O cansaço será aliviado e a pesca a noite não obteve sucesso será, então, realizada.
Sem questionar, lançam as redes e grande quantidade de peixes recolheram naquele dia. Suas forças quase não suportaram tamanha pesca. Porque foram obedientes, ouviram-no, apesar do insucesso até então, tiveram grande êxito. Seus intentos foram cumpridos; os peixes vieram. Estava garantido sustento de todos. A fome seria erradicada. Diante do fato, o “amor”, como sempre, é quem reconhece em sinal de gratidão uma ação benéfica e sabe a quem reportá-la; e mais, dá os méritos devido ao autor de tamanha alegria que enche os corações: “É o Senhor”, disse o discípulo a quem Jesus amava. A proximidade da pessoa de Jesus enche os seus discípulos de coragem e transforma-lhes a vida; o nu, desprovido de proteção, despojado em si mesmo, veste-se, pois se prontifica para o anúncio que lhe sobrevirá e atira-se ao mar, como que ansioso por aproximar-se do Senhor. Ser-lhe propicio e chegar “puro” aos seus pés. Os demais discípulos trazem a barca e os peixes para a margem; para bem próximo do Senhor, afinal “Ele atrai todas as coisas para si”. (Jo 12,32).
No entanto, ao pisarem terra firme, aquele que anteriormente pedira alimento tem agora pães e peixes preparados para serem alimento aos “famintos”. Tal como à Samaritana, pede pão “dom” aquele que o tem para oferecer. Jesus sacia-lhes do que vieram buscar. Pedro traz a rede e a barca para a terra firme e ela não se rompe; Tão logo o Senhor confiará a Ele o cuidado dos seus; se agora foi capaz de trazer aquela para terra firme, o Bom Pastor lhe confiará o seu rebanho tão precioso. Para tanto, é preciso comprar o seu amor; este é condição indispensável para se fazer anunciador e agregador do reino messiânico que não tem fim. O amor é quem nos leva, como discípulos, a sentirmos que não cuidamos do que é nosso, mas do que é do Senhor; do que lhe custou sua vida; seu sangue. Somos frágeis e constantemente, apesar de reta intenção em sermos fiéis, o traímos quando as vicissitudes da vida nos alcançam. É preciso repará-las todas no sacrifício do amor oblativo. Somente imbuídos por um amor generoso e sacrifical, seremos capazes de apascentar cordeiros e ovelhas do Pastor Sagrado.
É Ele, o Cristo, feito alimento para nós, que dá de si mesmo para que sejamos fortificados no seu amor. É no seio da comunidade que vivenciamos a partilha dos dons e somos refeitos de toda ação não tão produtiva ou, efetivamente unidos, é que nos encorajamos a tentar uma vez mais. A presença do ressuscitado nos evidencia que é preciso, antes de qualquer coisa, conhecê-lo presencialmente se quisermos obedecê-lo sinceramente antes que aos homens. (Atos 5, 29). Nenhuma ditadura ainda que religiosa como a do tempo de Jesus, e as de agora, nos pode calar ou nos fazer acomodar ou negligenciar o anúncio que a nós foi confiado. Os apóstolos, porque tiveram a coragem de se fazerem discípulos não temeram nem mesmo os açoites e os mandos e desmandos daqueles que em nada tinham de compromisso com a Verdade e a Vida propostas por aquele único Caminho proveniente do Pai dos céus. Quem se coloca neste ínterim, contemplará, tal como revelação do Amado, as núpcias do cordeiro com sua noiva que, resplandecente nas noites de núpcias, é digno de receber honra, glória e poder.
“... Se à tarde vem o pranto visitar-nos, de manhã vem saudar-nos a alegria.” (Salmo 29)
Louvado Seja o Nosso Senhor Jesus Cristo.
