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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Quaresma - O grande retiro espiritual..

Dom Moacyr José Vitti
Estamos vivendo o tempo sagrado da Quaresma, de preparação para a Páscoa, a maior festa do cristianismo. Esse tempo litúrgico, que se constitui numa grande graça de Deus, convida-nos à conversão, à mudança de mentalidade e de atitudes, a fim de que possamos celebrar dignamente os mistérios da morte e ressurreição de Jesus Cristo.

A Quaresma é o grande retiro espiritual dos cristãos. Na agitação do dia-a-dia, somos convidados ao silêncio, para ouvir a voz de Deus; diante da violência, da agressividade, somos chamados à misericórdia e ao perdão; em meio aos apelos do poder, do prazer, das riquezas, somos convidados à humildade, à sobriedade, ao desapego; vivendo numa sociedade individualista, somos chamados à partilha, à fraternidade.

Para vivermos esse grande retiro, o Evangelho nos propõe a prática da oração, da esmola e do jejum. Pela oração, entramos em comunhão íntima com Deus, vivendo plenamente nossa filiação divina. Através dela estabelecemos um diálogo com o Pai, falamos e ouvimos, revisando nossas atitudes. A oração se manifesta em nossas preces de louvor e gratidão, de pedidos de graças e de perdão. A oração se manifesta, também, na atitude de escuta dócil em relação a Deus, procurando descobrir sua vontade, de modo especial através da meditação da sua palavra.

A esmola é um gesto concreto pelo qual manifestamos nossa fraternidade, reconhecendo no necessitado o irmão. Dar esmola não é um simples ato de filantropia, mas a expressão concreta de amor para com o irmão empobrecido, vendo nele a imagem do próprio Cristo (cf. Mt 25,34-40). Mais que a oferta material, a esmola deve exprimir nossa solidariedade, nossa doação, a doação da própria vida. E deve, principalmente, motivar-nos ao compromisso com a justiça, lutando para a construção de uma sociedade mais fraterna e igualitária, em que todos possam ter direito a uma vida digna.

Outro gesto importante é o jejum. Não apenas o jejum de alimento, que a Igreja nos propõe na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa, mas também o jejum entendido como outras formas de mortificação e desapego. Todavia é importante ressaltar que o jejum só tem sentido quando for uma atitude de penitência e de solidariedade. Assim, o que se economiza ao deixar de comer ou beber, deve se transformar em oferta aos emprobrecidos. Ressalte-se, ainda, que essa prática só tem valor quando nos leva à prática da justiça social, como nos adverte o profeta Isaías: o jejum que Deus aprecia é desatar as ligaduras de impiedade, libertar os cativos, eliminar toda opressão, repartir o pão com que tem fome, acolher os pobres e peregrinos (cf. Is 58,6-10).
Todas essas práticas que caracterizam o grande retiro quaresma! devem nos levar à conversão, pessoal e da sociedade. A degradação moral e dos costumes, a desagregação familiar, o desemprego, a miséria, a fome, a corrupção política são marcas da nossa sociedade. Se não houver uma verdadeira transformação, com certeza será a ruína dela. Essa realidade nos reporta à mensagem do livro de Jonas, no Antigo Testamento. O profeta anunciava à cidade de Nínive a necessidade de conversão. E todos os cidadãos, até o rei, vestiram-se de trajes humildes, fizeram jejum e a cidade não foi destruída, pois Deus teve compaixão do povo que se arrependeu e abandonou o caminho do mal. Hoje soa atual a mensagem do livro de Jonas, novamente ressoa o convite do profeta à conversão, a fim de que nossa sociedade não seja destruída em seus valores e fundamentos.

O grande anseio do povo é por vida nova. E a ressurreição de Jesus veio trazer essa vida. Por isso, empenhemo-nos em viver o retiro quaresmal de modo intenso, a fim de que a celebração da Páscoa traga a cada um e a todo o povo a esperança de uma nova vida e de uma nova sociedade, marcadas pêlos valores do Evangelho. Que a Quaresma motive à conversão de nossos corações, bem como das estruturas sociais, para que possamos celebrar as alegrias da Páscoa de Cristo, que morreu e ressuscitou para que todos tenham vida em plenitude.


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